Na história do cinema, há filmes que por seus méritos artísticos
não chamam tanto a atenção, mas que com o tempo acabam ganhando um status
diferente por serem emblemáticos de uma época. “Vivendo no abandono” (1995) é
um bom exemplo desse tipo de produção, pois acaba sendo um retrato bastante
fiel de uma época muito fervilhante para o cinema independente norte-americano
(no presente caso, a década de 90). Tanto que a trama ficcional da obra versa
justamente sobre a conturbada realização de um filme de baixo orçamento. O
roteiro traz até citações e referências a nomes expressivos da cinematografia
dos EUA na época, indo de piadas sobre Quentin Tarantino e chegando numa
formatação narrativa que evoca algo do surrealismo particular de David Lynch
(aliás, tem até uma tiração de sarro explícita com a célebre sequência de sonho
com um anão de “Twin Peaks”). Isso sem contar que encabeça o elenco um ator que
foi chave para esse tipo de cinema praticado na época, o excelente Steve Buscemi.
Cabe ressaltar, entretanto, que “Vivendo no abandono” não se limita apenas a
citações e piadinhas. O diretor Tom DiCillo consegue dar unidade para esse mar
de referências, tendo como resultado final uma obra que se mostra uma sardônica
e singular declaração de amor às agruras e delícias de se fazer um filme.
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