Seth Rogen é um cara esperto. Com freqüência, ele é acusado
de sempre interpretar o mesmo tipo de papel, e de que os seus roteiros têm um
conteúdo auto-referencial e machista. E daí o que ele decide fazer em sua estréia
como diretor? Ora, ele simplesmente trabalha em cima de uma trama em que ele e
seus melhores amigos-atores interpretam a si mesmo, fazendo com que tudo aquilo
do qual lhe acusavam como defeito seja encarado como legítima matéria-prima
para o seu filme. O resultado, entretanto, está longe do mero exercício de
narcisismo. “É o fim” (2013) é uma explosiva mistura de metalinguagem e tiração
de sarro. Em meio a um pastiche de roteiro de temática apocalíptica, Rogen, ao
lado do codiretor Evan Goldberg, ironiza de forma ácida o meio artístico em que
vive, pleno de hedonismo, megalomania e vazio existencial, mas fazendo questão
de deixar claro que também brinca com o imaginário da platéia (afinal, quem
nunca quis ter a vida de astro de Hollywood?). A caracterização do elenco que
interpreta a si mesmo é caricatural, exagerada: Rogen e sua turma trabalham
mais com a idéia a qual o público e imprensa fazem deles como pessoa do que com
algum conceito da realidade de como eles são efetivamente em suas vidas
particulares. Nessa onda, as citações e referências a outros filmes que eles
tenham participado podem soar nerd ou geek, mas na realidade também dão à obra
uma espécie de aura de crônica comportamental a refletir uma época específica. Além
disso, Rogen e Goldberg encontram soluções formais inquietantes, em que o tom
de filmagem caseira bem feita de algumas sequências se mostre em sintonia admirável
com a ambientação de horror apocalípticos de outras cenas. Todos esses aspectos
estéticos e temáticos dão a “É o fim” um caráter delirante, mas sem que o filme
perca a sua noção de comédia popular. Tanto que a conclusão do filme, com os
Backstreet Boys caracterizados como anjos e promovendo um tremendo baile no
paraíso, reflete com precisão essa natureza híbrida, esquisita e divertida da
obra.
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