quinta-feira, novembro 21, 2013

É o fim, de Seth Rogen e Evan Goldberg ***1/2


Seth Rogen é um cara esperto. Com freqüência, ele é acusado de sempre interpretar o mesmo tipo de papel, e de que os seus roteiros têm um conteúdo auto-referencial e machista. E daí o que ele decide fazer em sua estréia como diretor? Ora, ele simplesmente trabalha em cima de uma trama em que ele e seus melhores amigos-atores interpretam a si mesmo, fazendo com que tudo aquilo do qual lhe acusavam como defeito seja encarado como legítima matéria-prima para o seu filme. O resultado, entretanto, está longe do mero exercício de narcisismo. “É o fim” (2013) é uma explosiva mistura de metalinguagem e tiração de sarro. Em meio a um pastiche de roteiro de temática apocalíptica, Rogen, ao lado do codiretor Evan Goldberg, ironiza de forma ácida o meio artístico em que vive, pleno de hedonismo, megalomania e vazio existencial, mas fazendo questão de deixar claro que também brinca com o imaginário da platéia (afinal, quem nunca quis ter a vida de astro de Hollywood?). A caracterização do elenco que interpreta a si mesmo é caricatural, exagerada: Rogen e sua turma trabalham mais com a idéia a qual o público e imprensa fazem deles como pessoa do que com algum conceito da realidade de como eles são efetivamente em suas vidas particulares. Nessa onda, as citações e referências a outros filmes que eles tenham participado podem soar nerd ou geek, mas na realidade também dão à obra uma espécie de aura de crônica comportamental a refletir uma época específica. Além disso, Rogen e Goldberg encontram soluções formais inquietantes, em que o tom de filmagem caseira bem feita de algumas sequências se mostre em sintonia admirável com a ambientação de horror apocalípticos de outras cenas. Todos esses aspectos estéticos e temáticos dão a “É o fim” um caráter delirante, mas sem que o filme perca a sua noção de comédia popular. Tanto que a conclusão do filme, com os Backstreet Boys caracterizados como anjos e promovendo um tremendo baile no paraíso, reflete com precisão essa natureza híbrida, esquisita e divertida da obra.

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