Um recurso bastante utilizado na filmografia de Woody Allen é
o jogo de aparências que ele promove tanto na concepção da narrativa quanto na
temática de alguns de seus principais trabalhos. Em “Blues Jasmine” (2013), o
diretor norte-americano volta a se valer de tal preceito e com resultados
bastante contundentes. Dessa forma, o filme, na sua superfície, tem a estrutura
de um pesado drama a focar a decadência moral, financeira e psíquica de uma
socialite. A partir de um estilo elegante e preciso de filmar, típico das
produções de Allen, entretanto, pode-se perceber um irônico e sutil subtexto
que faz com que aos poucos um sarcasmo corrosivo se espalhe pela trama. Nesse
sentido, o que era para ser uma obra marcada pelo intimismo acaba ganhando uma
conotação simbólica muito mais ampla. Os
motivos e o atribulado percurso da derrocada de Jasmine (Cate Blanchett)
encontram ressonância na queda do padrão de vida da própria sociedade dos
Estados Unidos pós-crise econômica de 2008. Afinal, a equação que dominou boa
parte da vida da protagonista (insensibilidade
social e consumismo desenfreado de Jasmine mais as picaretas especulações
financeiras de seu marido) representa uma síntese bem próxima dos fundamentos
que levaram os EUA à crise que ainda até hoje não se encerrou. No mais, Allen
também tem como grande trunfo em sua produção o desempenho visceral de
Blanchett, que torna ainda mais impactante o inferno sem fim que atormenta a
personagem principal.
Um comentário:
É o melhor desempenho de Cate Blanchett e se não ganhar o Oscar dessa vez será injusto.
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