quinta-feira, janeiro 02, 2014

Blue Jasmine, de Woody Allen ***1/2


Um recurso bastante utilizado na filmografia de Woody Allen é o jogo de aparências que ele promove tanto na concepção da narrativa quanto na temática de alguns de seus principais trabalhos. Em “Blues Jasmine” (2013), o diretor norte-americano volta a se valer de tal preceito e com resultados bastante contundentes. Dessa forma, o filme, na sua superfície, tem a estrutura de um pesado drama a focar a decadência moral, financeira e psíquica de uma socialite. A partir de um estilo elegante e preciso de filmar, típico das produções de Allen, entretanto, pode-se perceber um irônico e sutil subtexto que faz com que aos poucos um sarcasmo corrosivo se espalhe pela trama. Nesse sentido, o que era para ser uma obra marcada pelo intimismo acaba ganhando uma conotação simbólica muito mais ampla. Os motivos e o atribulado percurso da derrocada de Jasmine (Cate Blanchett) encontram ressonância na queda do padrão de vida da própria sociedade dos Estados Unidos pós-crise econômica de 2008. Afinal, a equação que dominou boa parte da vida da protagonista (insensibilidade social e consumismo desenfreado de Jasmine mais as picaretas especulações financeiras de seu marido) representa uma síntese bem próxima dos fundamentos que levaram os EUA à crise que ainda até hoje não se encerrou. No mais, Allen também tem como grande trunfo em sua produção o desempenho visceral de Blanchett, que torna ainda mais impactante o inferno sem fim que atormenta a personagem principal.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

É o melhor desempenho de Cate Blanchett e se não ganhar o Oscar dessa vez será injusto.