A sequência de abertura de “Avanti Popolo” (2012) é uma bela
e contundente síntese da proposta artística da obra em questão: em um registro
visual de perspectiva subjetiva, um carro vaga pelas ruas de um bairro popular
paulista, enquanto ouve na rádio um programa entrecortado por insólitas canções
e esquisitas intervenções em “portunhol” de seu locutor. O estilo de filmar e editar
tais tomadas é seco e sem efeitos, mas provoca um sensorialismo de encanto
perturbador, como se induzisse ao espectador a impressão de uma certa viagem onírica
por um sombrio universo. A partir dessa abertura, “Avanti Popolo” se estende
por uma estranha combinação de crônica familiar, obra política e discussões estéticas,
sempre permeado por um verniz de melancolia e desilusão. A narrativa navega por
um limite entre a encenação naturalista e uma atmosfera surreal – nesse último
caso, principalmente por alguns irônicos diálogos sobre a beleza de hinos
nacionais ou apresentando um novo “dogma” cinematográfico. O diretor Michael
Wahrman não teme aprofundar esse hibridismo formal/temático, fazendo dele a
força motriz de sua produção e que realça ainda mais os aspectos dramáticos do
filme (a solidão da velhice, a incomunicabilidade entre gerações, o desencanto
com as ideologias, a busca pela pura beleza artística).
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