Depois do amorfo “Curling” (2009), o diretor canadense Denis
Còté consegue conceber um formalismo mais vigoroso em “Vic+Flo viram um urso”
(2013). Em seus primeiros momentos, a obra mantém uma atmosfera rarefeita,
investindo num intimismo de talhe clássico envolvendo tanto a difícil adaptação
à sociedade da ex-presidiária Victoria (Pierrette Robitaille) quanto o seu
conturbado relacionamento lésbico com Florence (Romane Bohringer). A trama se
desenvolve num microcosmo que abrange o pequeno sítio em que a protagonista
mora e a cidade interiorana que fica perto de sua residência, com Cóté construindo
uma narrativa de tons simbólicos a retratar questões como a inadequação social
e o preconceito moral. Aos poucos, entretanto, a trama vai ganhando contornos mais
sombrios no gênero suspense, principalmente quando entra em cena Jackie/Marina
(Marie Brassard), uma sorridente e brutal psicopata, descambando no seu terço
final para um misto de erotismo mórbido, demência e violência. A ambiência doentia
da obra acaba resultando em algo entre o onírico e o delirante, mas com Còté nunca
abdicando de uma estética de fotografia límpida e montagem se alternando em
tomadas fixas e discretos planos-sequência, sendo que esse contraste entre
clareza formal e temática nebulosa resulta num sensorialismo perturbador.
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