No meio de tantos documentários tendo a música como temática
no panorama cinematográfico nacional contemporâneo, “Olho nu” (2012), obra que
foca a carreira e o pensamento do cantor Ney Matogrosso, destaca-se pela
narrativa insólita concebida pelo diretor Joel Pizzini. Ao invés de se
concentrar numa estrutura linear e convencional, o diretor optou por uma estética
que emula uma espécie de sensorialismo, como se os fatos e números musicais
viessem num fluxo de lembranças e ideias. Há até uma ordem cronológica na
exposição de fatos e canções, com Pizzini utilizando diversos trechos de
entrevistas e shows com o seu protagonista, mas talvez a preocupação maior é
como esses audiovisuais se relacionam com o imaginário do espectador e do próprio
Brasil. Matogrosso sempre navegou por uma fronteira muito tênue entre o
sofisticado e o exagero kitsch, num dilema que revela muito da própria essência
da cultura brasileira. Assim, tanto a sua plateia podia delirar com ele
interagindo com as dançarinas do Chacrinha quanto se comover com a sutileza de
suas interpretações de clássicos do nosso cancioneiro tendo o acompanhamento de
músicos como Arthur Moreira Lima, Raphael Rabello e Paulo Moura. Pizzini tem o
indiscutível mérito de saber sintetizar em “Olho nu” essa essência controversa
da arte de Matogrosso, resultando em uma obra que tanto pode fascinar antigos
admiradores do cantor quanto estimular uma revisão de sua música por neófitos
(aliás, logo após assistir ao filme, vi gente falando em ir atrás de discos de
Matogrosso).
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