Assim como em "Olho nu" (2012), o documentário "Dominguinhos" (2014) se constrói como narrativa biográfica a partir de uma linguagem mais livre e sensorial. O recurso de depoimentos é utilizado com intensidade, mas a partir de trechos de entrevistas derivadas de material de arquivo. Os comentários de Dominguinhos sobre a sua vida e arte e os ótimos números musicais compõem um fascinante mosaico intimista e artístico, mostrando com sensibilidade as diferenças nuances da sua musicalidade (que vai do tradicional pé-de-serra até a uma abordagem que se aproxima do jazz), bem como o fato das suas experiências de vida estarem intrinsecamente ligadas à própria natureza dualista de melancolia e alegria de suas canções e interpretações. E também como na já mencionada obra que tem Ney Matogrosso como protagonista, os diretores Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar procuram usar a vida e arte do seu protagonista como uma espécie de radiografia do sentimento e espírito de um povo - a música mestiça de Dominguinhos também reflete a natureza nômade de retirantes nordestinos na busca de uma vida mais próspera no "sul maravilha", e que resultou também na tremenda diversidade de ritmos e melodias que grassam no nosso cancioneiro, indo do telurismo de Quinteto Violado, Banda de Pífanos de Caruaru e Luis Gonzaga e chegando no universalismo de Gilberto Gil e Nara Leão (todos presentes no documentário em questão).
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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