Baseado na mesma obra literária francesa que deu origem à
obra-prima cinematográfica “30 anos esta noite” (1963), “Oslo, 31 de agosto” (2011)
busca uma abordagem diferente do clássico de Louis Malle. Se neste último a
saga das últimas 24 horas de alcoólatra em recuperação possuía um viés de poética
melancolia (acentuada pela trilha sonora repleta de temas marcantes de Erik
Satie), no filme norueguês de Joachim Trier a jornada do protagonista ganha uma
conotação diferente. Isso porque os sentimentos de inadequação e desesperança
do toxicômano Anders (Anders Danielse Lie) apresentam um sentido de desafio e
questionamento. Passo a passo, o personagem vai constando que o mundo que lhe
oferecem para sua “regeneração” não é tão atraente: empregos vazios, vida
social e rotina marcadas por relações superficiais. O que era para ser uma
suposta redenção vai se revelando apenas como uma forma de opressão ainda mais
angustiante. Nas seqüências finais, em que Anders dedica as suas últimas horas
a momentos de hedonismo e aos preparativos de do seu suicídio, é como se o
protagonista tivesse o seu momento de desconcertante e amarga iluminação. O
estilo impresso por Trier na condução da narrativa é contundente, recorrendo a
poucos efeitos e a uma atmosfera de distanciamento emocional, o que faz com que
o filme tenha por vezes um tom de ironia amarga desconcertante e mesmo nas
tomadas que mostram a overdose intencional de Anders a produção ganha um
inesperado clima de lirismo.
Um comentário:
Boa dica
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