É claro que quando se assiste a um filme do homem que deu ao
mundo obras-primas como “Brazil, o filme” (1985), “Os doze macacos” (1995) e “Medo
e delírio em Las Vegas” (1998) é normal que haja uma expectativa maior. E se
alguém for ver “O teorema zero” (2013) pensando em termos de comparações com as
produções mencionadas, é provável que se decepcione. Nessa sua obra mais
recente, o cineasta Terry Gillian dá uma impressão constante de que está
reciclando ideias formais e temáticas que já havia trabalhado de forma mais satisfatória
em trabalhos anteriores, como personagens esquisitos e solitários, trama unindo
noções de cientificismo e delírio e barroquismo visual. Por mais que haja tal
frustração, entretanto, também isso pode ser considerado uma marca autoral do
diretor, revelando coerência com suas habituais obsessões estéticas e
existenciais. Há de se convir também que por vezes algumas seqüências da obra oferecem
algum prazer sensorial, tanto pela concepção visual perturbadora que mistura
sujeira e tecnologia quanto pelo humor perverso destilado pelo roteiro, além do
elenco que traz composições dramáticas bastante viscerais (Christoph Waltz e David
Thewlis impressionam em caracterizações que transbordam idiossincrasias e
fragilidade emocional, enquanto Mélanie Thierry é encantadora no seu misto de
erotismo sacana e meiguice).
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