Em 1993, a TV Globo lançou uma das melhores produções que
apareceram em sua programação, a minissérie “Agosto”, baseada em um extraordinário
romance de Rubem Fonseca. A trama trazia uma história policial ficcional que se
enleava de forma notável com fatos históricos relacionados ao tenebroso mês de
agosto de 1954, indo do atentado a Carlos Lacerda e chegando no suicídio de Getúlio
Vargas. O programa televisivo em questão não economizava na tensão e na violência,
além de apresentar um trabalho de caracterização dramática de personagens e
direção de arte antológicos, que pareciam realmente resgatar o espírito de uma época.
Dessa forma, chega a ser engraçado que tenha sido a Globo Filmes que tenha
produzido “Getúlio” (2013), filme que faz a recriação dramática dos marcantes
fatos daquele agosto de 1954. Isso porque essa versão cinematográfica tem um
forte caráter asséptico no seu formalismo, naquela linha de produção que se
pretende “séria” e não quer chocar as plateias. Walter Carvalho é o melhor
diretor de fotografia brasileiro em atividade, mas a visual que concebeu no
filme é clean em excesso e anódino, o que aliado às interpretações burocráticas
do elenco dá a constante impressão de uma produção despersonalizada e que já
nasceu datada. Além disso, a parte temática peca por uma visão simplória e
maniqueísta das situações apresentadas – na ótica do filme, é como se Getúlio
tivesse se suicidado por um suposto medo de ser preso. Assim, uma produção que
era para ser mais ousada acaba sendo muito mais conformista que uma minissérie
televisiva de vinte anos atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário