O diretor norte-americano Scott Cooper parece despontar como
o novo cronista cinematográfico da macheza, algo como o John Millius da sua
geração. Em Coração louco (2009) ele
retratava com um misto de crueza e sensibilidade a rotina de hedonismo e
autodestruição de um cantor country em decadência no plano comercial, mas que
mantinha intacta a inspiração em versos e melodias. Já em sua obra mais
recente, Tudo por justiça (2013),
esse lado de sensibilidade parece se extinguir de forma inexorável para
indivíduos que andam quase à deriva em meio a um país marcado por guerras caças
níqueis e falta de perspectivas econômicas para os seus nativos. Como mote de
sua estrutura narrativa, a obra de Cooper se vale de uma trama de premissa até
simples: a busca de vingança por parte do ex-presidiário e operário boa praça Russel
(Christian Bale) contra o traficante e agenciador de brigas clandestinas Harlam
(Woody Harrelson) que matou Rodney (Casey Affleck) seu irmão encrenqueiro. O
filme se sobressai, entretanto, em detalhes estéticos e temáticos que revelam
um olhar cinematográfico acima da média. O cenário que serve como pano de fundo
para a sombria história de Tudo por
justiça sublinha de forma precisa a essência das criaturas que acolhe: uma decadente
cidadezinha de interior norte-americana circundada por montanhas. O registro da
fotografia investe em planos amplos e tomadas panorâmicas que, aliado a
montagem de moldes clássicos, constrói uma atmosfera sutilmente sufocante e
fatalista, estabelecendo um paralelo simbólico entre as densas florestas e
ruínas de fábricas com a dura e impenetrável natureza psicológica das
personagens. Na realidade, o jogo de metáforas e simbologias é fundamental na
encenação proposta por Cooper. Russel, nas horas vagas, é caçador
experimentado. Já Harlam é uma verdadeira força da natureza, de índole
agressiva que beira o bestial. As seqüências finais, assim, representam o
despojamento das convenções sociais e morais – descrente do aparato legal e
policial na capacidade de fazer justiça e das esperanças de ter uma vida social
estruturada, para Russell só resta a sua vingança, na qual reproduzirá as
artimanhas e frieza necessárias na captura e execução de uma fera selvagem.
Cooper coreografa tais cenas emulando um sombrio e violento ritual de morte,
dando ao seu filme uma conclusão contundente e melancólica, mas
extraordinariamente coerente, em que as expressões de serena resignação tanto
de Russel quanto Harlam com seus respectivos destinos reforçam ainda mais o
caráter perturbador de Tudo por justiça.
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