quarta-feira, julho 30, 2014

Tudo por justiça, de Scott Cooper ****



O diretor norte-americano Scott Cooper parece despontar como o novo cronista cinematográfico da macheza, algo como o John Millius da sua geração. Em Coração louco (2009) ele retratava com um misto de crueza e sensibilidade a rotina de hedonismo e autodestruição de um cantor country em decadência no plano comercial, mas que mantinha intacta a inspiração em versos e melodias. Já em sua obra mais recente, Tudo por justiça (2013), esse lado de sensibilidade parece se extinguir de forma inexorável para indivíduos que andam quase à deriva em meio a um país marcado por guerras caças níqueis e falta de perspectivas econômicas para os seus nativos. Como mote de sua estrutura narrativa, a obra de Cooper se vale de uma trama de premissa até simples: a busca de vingança por parte do ex-presidiário e operário boa praça Russel (Christian Bale) contra o traficante e agenciador de brigas clandestinas Harlam (Woody Harrelson) que matou Rodney (Casey Affleck) seu irmão encrenqueiro. O filme se sobressai, entretanto, em detalhes estéticos e temáticos que revelam um olhar cinematográfico acima da média. O cenário que serve como pano de fundo para a sombria história de Tudo por justiça sublinha de forma precisa a essência das criaturas que acolhe: uma decadente cidadezinha de interior norte-americana circundada por montanhas. O registro da fotografia investe em planos amplos e tomadas panorâmicas que, aliado a montagem de moldes clássicos, constrói uma atmosfera sutilmente sufocante e fatalista, estabelecendo um paralelo simbólico entre as densas florestas e ruínas de fábricas com a dura e impenetrável natureza psicológica das personagens. Na realidade, o jogo de metáforas e simbologias é fundamental na encenação proposta por Cooper. Russel, nas horas vagas, é caçador experimentado. Já Harlam é uma verdadeira força da natureza, de índole agressiva que beira o bestial. As seqüências finais, assim, representam o despojamento das convenções sociais e morais – descrente do aparato legal e policial na capacidade de fazer justiça e das esperanças de ter uma vida social estruturada, para Russell só resta a sua vingança, na qual reproduzirá as artimanhas e frieza necessárias na captura e execução de uma fera selvagem. Cooper coreografa tais cenas emulando um sombrio e violento ritual de morte, dando ao seu filme uma conclusão contundente e melancólica, mas extraordinariamente coerente, em que as expressões de serena resignação tanto de Russel quanto Harlam com seus respectivos destinos reforçam ainda mais o caráter perturbador de Tudo por justiça.

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