Se o subtexto de “O protetor” (2014) trazia uma leitura
escancarada do medo norte-americano da atual ascensão econômica e política na
Rússia, em “Annabelle” (2014) também fica evidente na entrelinhas de seu
roteiro uma nostalgia conservadora dos valores morais do velho “american way of
life”. A trama do filme, situada na segunda metade da década de 60, chega a ser
didática na sua concepção simbólica: o casal “bonzinho” é formado por uma
adorável e loira dona de casa e um bem apessoado médico em início de carreira,
sendo que passam a serem acossados por forças do mal cultuados por caricatos
hippies satânicos. Ou seja, aquilo que era considerado uma sincera manifestação
sócio-cultural por uma sociedade mais justa e libertária hoje em dia passa a
ser uma influência maléfica para os nossos jovens... O diretor John R. Leonetti
não se propõe a grandes ousadias na construção de sua narrativa, abusando de
todos os maniqueísmos e truques baratos de sustos possíveis, ainda que guarde a
sutiliza necessária para os momentos de tensão. E por mais óbvio que seja no
seu formalismo e reacionário na sua visão temática, “Annabelle” consegue algo
raro para os filmes de horror contemporâneos: em vários momentos consegue ser
efetivamente assustador. Dá para dizer que em suas resoluções finais a produção
adota algumas soluções fáceis de roteiro, mas também é inegável que há bons
achados visuais (a caracterização de época da direção de arte é bastante
eficiente na contraposição que faz entre o visual limpinho de subúrbios
modorrentos e a sujeira sanguinolenta de quando a violência desponta) e uma
atmosfera sombria que por vezes resvala no perturbador.
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