O diretor italiano Roberto Andò formata “Viva a liberdade” (2013)
a partir de uma estrutura narrativa convencional de uma comédia de erros. A
trama focaliza as confusões e enganos provocados por dois gêmeos, um senador em
crise existencial e um professor recém saído de uma clínica psiquátrica, que
por condições aparentemente involuntárias do destino acabam trocando de lugar.
Num primeiro momento, o conflito do roteiro navega por um clichê básico – as diferenças
de temperamento e concepções de vida dos irmãos seriam o mote principal da
graça e do sentido do filme. Ocorre, entretanto, que com o desenrolar da trama
esse conceito vai ficando cada vez mais difuso. Elementos do passado dos
protagonistas vem à tona sutilmente e revelam que a força da relação dos dois
talvez esteja nas semelhanças filosóficas e culturais que os unem. Esse tom
obscuro da narrativa torna a obra cada vez mais intrigante e acaba evidenciando
um notável caráter simbólico do filme, em que a complexidade do relacionamento
entre os irmãos e também com aqueles que os rodeiam refletem a própria condição
singular da política e da sociedade italianas. Dessa forma, não é por acaso que
em determinado momento da produção aparece um vídeo do mestre Fellini desancando
autoridades e políticas: os delírios fellinianos pairam como discreta influência
dentro das curiosas soluções estéticas e temáticas estabelecidas por Andò em “Viva
a liberdade”.
Um comentário:
boa dica
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