O diretor polonês Marcin Wrona consegue um feito notável em
“O batismo” (2010). A partir de uma estrutura narrativa simples no gênero
policial, ele constrói um pequeno conto trágico e brutal cuja atmosfera sombria
alude a inevitabilidade do destino. A trama não apresenta concessões dramáticas
ao retratar o calvário de um delator que se vê chantageado e sentenciado de
morte pelos seus antigos companheiros. Wrona estabelece ambientações
contrastante e perturbadoras – quando o protagonista Michal (Wojciech Zielinski)
está em casa com a família, há uma impressão de beatitude e pureza, mas quanto
mais ele vai se enredando no seu pesadelo pessoal e também surgem à tona seus
algozes essa sensação de algo imaculado vai se pervertendo num cenário de
violência e sangue. O amigo Janek (Tomasz Schuchardt)
talvez seja o personagem que melhor sintetize o espírito do filme – angustiado
por ajudar, cada vez mais se sente impotente diante da inexorabilidade dos
fatos que se desenrolam na tela. As seqüências finais do filme se relacionam ao
batismo do título e fazem lembrar as cenas finais marcantes de “O poderoso
chefão” (1972). E assim como na clássica obra de Francis Ford Coppola, mostra
que o ato religioso em questão se configura como um ritual vazio e hipócrita
diante da realidade da crueldade humana.
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