Dentro do panorama atual do cinema argentino, repleto de
melodramas e comédias de estrutura formal e temática convencional que remetem a
quadradas produções televisivas, um filme como “Relatos selvagens” (2014) acaba
sendo uma grata surpresa. As referências estéticas que pontuam a narrativa da
produção dirigida por Damián Szifron fogem do previsível (ainda que o estilo do
cineasta tenha um certo caráter asséptico na sua concepção visual): atmosferas
tensas e sórdidas e explosões de violência que lembram o cinema italiano de
horror e suspense dos anos 60 e 70 (por vezes, por exemplo, dá a impressão que
estamos ouvindo algum tema do Goblin, banda que teve parceria fértil com Dario
Argento), o ritmo narrativo cartunesco do melhor da cinematografia de Alex de
La Inglesia, o senso de humor bagaceiro e ácido das comédias de Pedro Almodóvar
– nesse último caso, não é surpresa que a própria El Deseo tenha produzido “Relatos
selvagens”. Tais influências servem como moldura adequada para os contos de
violência e vingança que compõem o filme. A condução da narrativa é eficiente e
mantém com consistência o clima de perversa diversão para o público, com o
roteiro trazendo também um intrigante subtexto, em que a profusão de
brutalidade e humor negro também ilustram uma espécie de radiografia
existencial da classe média ocidental perante aqueles que seria seu supostos
algozes (Estados, classes baixas, criminalidade e seus próprios pares de
classe). Nesse sentido, “Relatos selvagens” se revela uma obra emblemática no
sentido de captar o espírito de uma época.
Um comentário:
É um grande filme, adoro histórias que eventualmente tornar-se um. Admiro o ator Leonardo Sbaraglia , eu acho que é ótimo e atualmente estrelando em uma série bem-sucedida chamada O Hipnotizador.
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