sexta-feira, outubro 24, 2014

Relatos selvagens, de Damián Szifron ***


Dentro do panorama atual do cinema argentino, repleto de melodramas e comédias de estrutura formal e temática convencional que remetem a quadradas produções televisivas, um filme como “Relatos selvagens” (2014) acaba sendo uma grata surpresa. As referências estéticas que pontuam a narrativa da produção dirigida por Damián Szifron fogem do previsível (ainda que o estilo do cineasta tenha um certo caráter asséptico na sua concepção visual): atmosferas tensas e sórdidas e explosões de violência que lembram o cinema italiano de horror e suspense dos anos 60 e 70 (por vezes, por exemplo, dá a impressão que estamos ouvindo algum tema do Goblin, banda que teve parceria fértil com Dario Argento), o ritmo narrativo cartunesco do melhor da cinematografia de Alex de La Inglesia, o senso de humor bagaceiro e ácido das comédias de Pedro Almodóvar – nesse último caso, não é surpresa que a própria El Deseo tenha produzido “Relatos selvagens”. Tais influências servem como moldura adequada para os contos de violência e vingança que compõem o filme. A condução da narrativa é eficiente e mantém com consistência o clima de perversa diversão para o público, com o roteiro trazendo também um intrigante subtexto, em que a profusão de brutalidade e humor negro também ilustram uma espécie de radiografia existencial da classe média ocidental perante aqueles que seria seu supostos algozes (Estados, classes baixas, criminalidade e seus próprios pares de classe). Nesse sentido, “Relatos selvagens” se revela uma obra emblemática no sentido de captar o espírito de uma época.

Um comentário:

Unknown disse...

É um grande filme, adoro histórias que eventualmente tornar-se um. Admiro o ator Leonardo Sbaraglia , eu acho que é ótimo e atualmente estrelando em uma série bem-sucedida chamada O Hipnotizador.