segunda-feira, outubro 20, 2014

A doença do sono, de Ulrich Kölher ***1/2


A temática que se insinua sutilmente na trama de “A doença do sono” (2011) tem uma forte recorrência não só na história do cinema quanto na própria cultura ocidental: a estranha relação de atração e repulsa entre o homem e a natureza. Na obra em questão, a formatação proposta pelo diretor alemão Ulrich Köhler é rigorosa na concepção e execução – não há trilha sonora, o estilo de filmar é seco e naturalista, os diálogos são econômicos e carregados de um subtexto cortante, as interpretações e caracterizações do elenco variam de forma notável entre a contenção dramática e a emoção pungente. Tal abordagem estética do filme por vezes até sugere um certo distanciamento emocional. Mas isso é apenas uma engenhosa forma para que a produção não descambe para soluções fáceis sentimentais. Com o desenvolvimento da trama, a tensão dramática vai ficando sufocante. O retrato que se faz da natureza bruta da África pode por vezes deslumbrar pelo belo registro visual de cenários verdejantes e exóticos, mas também revela uma perspectiva de medo e opressão perante aquilo que é desconhecido. A atmosfera de mistério que se original dos dilemas existenciais do roteiro é a tônica principal na narrativa de “A doença do sono” e que lhe dá um mórbido fascínio de sombrio conto moral.