Assim como em outras obras do diretor alemão M.A. Littler,
os indivíduos que aparecem ao longo do documentário “Hard Soil: As raízes da música
americana” (2014) são outsiders que aparentam estar fora do tempo e do espaço.
A narrativa do filme se desenvolve em dois festivais de música folk, um nos
Estados Unidos e outro na Europa, com a sua trama se concentrando em viscerais
números musicais e em longos depoimentos em que os artistas filosofam e
discorrem sobre suas vidas e culturas. Na maioria das vezes, são pessoas com um
pé na marginalidade: estanhos caipiras, professores românticos, freaks
alucinados e até mesmo ex-presidiários. Nesse estranho mosaico de tipos esquisitões
e rústicas canções, forma-se uma visão bastante particular de uma contracultura
que teima em resistir em um mundo em que a cultura ainda é fortemente acossada
por modas e interesses corporativos. As bandas e artistas-solo que se
apresentam nos festivais em questão não vendem milhares de discos, não estão
entre os mais acessados nos youtubes da vida e nem são celebridades assépticas –
são homens e mulheres em busca de uma maneira livre de expressar suas dores e
alegrias. A musicalidade crua deles e uma temática nebulosa nas letras, onde o
sacro e o profano convivem de forma perturbadora na mesma melodia, podem
assustar a ouvidos incautos, mas também transmitem um efeito sensorial
devastador. Littler demonstra notável sensibilidade na forma com que “Hard Soil”
abarca esse universo: ao invés do didatismo distanciado, prevalece uma poética
estética e que valoriza muito mais o sentimento do que o simples esclarecimento
histórico do que está acontecendo em cena.
Um comentário:
Esse doc foi exibido no II Festival de Cinema Independente Alemão, no Santander Cultural de Porto Alegre/RS.
Perfeito! :)
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