Mais um documentário a retratar os conflitos entre palestinos e judeus? Pois é, uma premissa como essa pode ser pouco atrativa nestes tempos em que o referido conflito é repisado continuamente na mídia. E nem dá para dizer que “Aisheen” (2010) traga alguma perspectiva nova para o assunto, pois o diretor Nicolas Wadimoff se concentra bastante na rotina de privações e injustiças pelas quais passam diariamente os palestinos que vivem em Gaza. Apesar da sensação de deja vu, entretanto, esta produção acaba chamando atenção por algumas soluções formais até mesmo surpreendentes. Isso fica evidente logo na seqüência de abertura, em que uma criança árabe caminha pelos escombros de um parque de diversão e ao encontrar o administrador pergunta ao mesmo sobre o trem fantasma. O adulto caminha com o garoto e mostra onde funcionava o antigo brinquedo e conta com detalhes o que tinha lá. O contraste entre as ingenuidades dos pretensos sustos do trem de fantasma com a dura realidade da guerra que cerca aquelas pessoas é desconcertante. E é nesse tem tom que oscila entre o alegórico e o metafórico que reside o encanto de “Aisheen”. Wadimoff abdica da narração em off impessoal para simplesmente dar a voz para os seus personagens, assim como procurar retratar com o máximo de naturalidade os fatos que se sucedem, não fazendo, assim, julgamentos explícitos sobre o que é retratado na tela. O cineasta acredita no poder de sugestão das imagens para retratar a sua visão, permitindo-se até momentos lúdicos em meio aos horrores do conflito. O momento em que os garotos palestinos de uma escola encenam episódios diários de sua difícil convivência com os soldados israelenses, por exemplo, traz uma carga de leveza irônica para um assunto tão denso que acaba ganhando um certo tom insólito.
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