Fica claro em “Eu Matei a Minha Mãe” (2009), longa de estreia de Xavier Dolan (realizado por ele quanto tinha menos de vinte anos de idade), que o jovem diretor canadense estava com a cabeça fervilhando de ideias para o seu debut. Sua ambição artística não é pequena numa obra que evidencia uma estética que abusa de uma série de preceitos típicos do “cinema verdade”, com tomadas que beiram o documental e fotografia de tons granulados em boa parte das cenas. Sua encenação, entretanto, é bastante dramatizada, com um certo pendor para o exagero, principalmente nas interpretações de Anne Dorval e do próprio Dolan nos papéis principais de mãe e filho em conflito. O choque entre tais concepções diferenciadas acaba sendo a força motriz do filme, que dá uma impressão permanente de um mundo em dissolução, o que se mostra em sintonia com a trajetória atribulada dos personagens principais. Por vezes, pode-se perceber que a vontade de Dolan de colocar na tela tudo o que está na sua cabeça torna alguns momentos da produção um tanto irregulares e fragmentados, mas isso é apenas um pequeno deslize em meio uma narrativa que impressiona pelo seu vigor ao expor com crueza a fúria formal e temática do cineasta. Nesse último quesito, aliás, ele revela uma inquietante visão sem pudores das contradições existenciais do filho que odeia (e também ama deslavadamente) a sua respectiva progenitora.
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