sexta-feira, maio 27, 2011

O Símio, de Jesper Ganslandt ***1/2



O diretor sueco Jesper Ganslandt reafirma com precisão em “O Símio” (2009) um princípio basilar para o gênero do suspense cinematográfico: o que importa para manter a tensão não é a resposta para os mistérios da trama, mas sim a atmosfera de dúvida que advém dos mesmos. Na cena de abertura do filme, o protagonista Krister (Olle Sarri) acorda em uma manhã banhado em sangue que não é o seu. O personagem sabe o que aconteceu, o espectador não. A partir dessa premissa, o roteiro se concentra em mostrar o tormento de Krister em lidar com tal situação extrema. A forma de Ganslandt filmar essa odisséia pessoal é seca: os enquadramentos são quase fixos, os cortes de montagem são poucos e a trilha sonora é inexistente. Tal moldura formal acentua ainda mais o clima de paranóia e dissolução emocional de Krister. Aos poucos, vão sendo revelados detalhes que compõem, ainda que de forma incompleta, o mosaico narrativo. Tudo dá a entender que as vítimas são da própria família de Krister e que foi ele mesmo que praticou os atos de violência. O que fica mais difuso, entretanto, é a sua motivação. Ele é um psicopata? Foi apenas algo acidental? Talvez o que haja de concreto apenas é que a vida dele vai se tornando cada vez mais um beco sem saída e que dificilmente as coisas acabarão bem. E apesar se desconhecer as causas da tragédia, acaba-se também vendo as conseqüências da mesma pela ótica perturbada do rapaz, o que torna “O Símio” uma obra progressivamente desconcertante.

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