sexta-feira, maio 20, 2011

Barcelona Era Uma Festa (Underground 1970-1980), de Morrosko Vila-San-Juan ***



O movimento de contracultura em Barcelona guarda grandes semelhanças com o movimento análogo que se desenvolveu no Brasil. Isso porque os principais princípios do ideário libertário típico de tais movimentos (amor livre, uso de drogas para expansão dos sentidos, contestação dos valores conservadores da sociedade contemporânea, rock como trilha sonora principal) se formataram com quase uma década de antecedência na Inglaterra e nos Estados Unidos. É provável que esse reflexo atrasado tenha relação com o fato de Espanha e Brasil estarem sob regime ditatoriais no período, o que dificultava a assimilação de ideias e tendências vindas do exterior (e naquele tempo Internet era algo que as pessoas mal podiam vislumbrar). O próprio punk, que foi o fecho de caixão definitivo para o flower power tanto britânico quanto norte-americano, só foi ter ressonância nos referidos países latinos lá pelos anos 80. Apesar dessa ressonância retardada, a contracultura possibilitou o surgimento de uma infinidade de manifestações criativas relevantes no circuito artístico de Barcelona (e nisso há uma outra grande aproximação com o mesmo fenômeno em terras brasileiras). Música, artes plásticas e quadrinhos geraram trabalhos que ajudaram a dar um novo patamar para evolução cultural da Espanha, assim como na parte comportamental surgiram outros padrões de conduta que colocaram em cheque os cânones morais de um país de maioria católica. “Barcelona Era uma Festa (Underground 1970-1980)” (2010) é um documentário que oferece uma perspectiva que oscila entre o irreverente (em sintonia com o espírito da época) e o crítico (ao expor sem maiores concessões as contradições do movimento), oferecendo um panorama bastante amplo sobre os fatos. As opções estéticas do diretor Morrosko Vila-San-Juan parra narrar esta saga de ascensão e queda da contracultura basca se revelam bastante adequadas no sentido de abusarem do grafismo exagerado que remete a comics da época, além da edição trepidante que reflete o espírito anárquico dos personagens focalizados. No cômputo geral, a obra se recusa a enquadrar os eventos numa ótica meramente didática e simplificadora, evidenciando que por mais que alguns dos principais artífices tenham ficado pelo meio do caminho devido aos seus excessos o seu legado anti-obscurantista foi fundamental para colocar a Espanha nos trilhos da modernidade.

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