Em cada fotograma de “Três Tempos Depois da Morte de Ana” (2009) parece haver uma declaração da cineasta canadense Catherine Martin dizendo “gostaria de ser Ingmar Bergman. A trama e a sua respectiva encenação parecem derivadas de alguma produção do mestre sueco. A história da mãe que se isola em uma cabana no meio da uma gelada floresta no interior do Canadá após a morte violenta da filha e recebe a visita de alguns fantasmas (da avó, da mãe e da mencionada filha) evoca aquela insólita junção entre o real e o metafísico de obras como “Morangos Silvestres” (1957) e “Gritos e Sussurros” (1972), além de receber um tratamento formal rigoroso, repleto de enquadramentos quase fixos, além da ausência de trilha sonora. Há a impressão de uma certa frieza na aridez de tal ambientação, mas o desenrolar da narrativa torna a mesma cada vez mais emocional, beirando até mesmo o edificante quando a protagonista reencontra um caso amoroso da adolescência. É nesse último ponto que o filme se afasta um pouco da sombra de Bergman, pendendo para uma espécie de melodrama contido. Mesmo que com um caráter artístico um tanto derivativo, “Três Tempos Depois da Morte de Ana” acaba seduzindo pela precisão de sua narrativa e por saber evitar os excessos sentimentais.
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