De concepção formal desconcertante, “Girimunho” (2011) vai
muito além do simples experimentalismo estéril. Seu roteiro é de ficção, mas a
rudeza de sua ambientação, o naturalismo das interpretações e o registro seco de
eventos e atos do cotidiano remetem a um estilo documental. Além disso, mesmo
que indícios da trama evidenciem a contemporaneidade da história, a encenação
perpetrada pelos realizadores Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina faz com
que a obra adquira um caráter fora do tempo e do espaço. O sotaque
carregado dos atores amadores torna seu linguajar sertanejo quase um dialeto,
fazendo primordial o uso de legendas. Esse acúmulo de “estranhezas” estéticas e
temáticas acaba configurando uma narrativa envolvente, que faz o espectador
penetrar em um universo à parte, em que pequenos fatos da rotina dos
personagens aos poucos adquirem um sentido de transcendência e de revolução
intimista. Os diretores também têm a boa sacada de incorporar elementos do
folclore do sertão mineiro para fazer a transição sutil da realidade para o
fantástico, como se ambos os planos dimensionais convivessem com a maior
naturalidade possível.
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