Mesmo que você não goste de documentário musical, ache balé
um saco, não saiba quem é Pina Bausch e/ou considere Wim Wenders uma mala sem
alça, terá de ver “Pina” (2011). Diferente do estilo de filmar objetivo e
simples que havia adota do em “Buena
Vista Socia Club” (1999), o diretor alemão não faz um mero registro de algumas
das principais coreografias da bailarina e dos depoimentos de seus discípulos e
parceiros. Wenders utiliza os recursos cinematográficos ao máximo, jogando o espectador
para dentro dos espetáculos, quase como se ele interagisse com os bailarinos.
Além disso, o filme dimensiona a equação cinema e balé para contextos que
extrapolam a mera relação câmera e palco – em boa parte das tomadas, as danças
se desenvolvem em ruas, dunas, jardins, riachos, como se os movimentos
buscassem uma naturalidade do simples andar. E se há uma associação imediata
que se faz entre o gênero documentário e a abordagem realista/naturalista no
que diz respeito ao aspecto formal, em “Pina” Wenders não se contenta com tal
relação e busca um estilo mais voltado para o expressionista. Isso fica
evidente, por exemplo, quando os depoimentos dos bailarinos mostram um
descompasso entre a imagem e o áudio, com os diálogos interagindo com
exercícios de ação interna dos artistas, num resultado desconcertante.
Talvez a descrição deste texto possa sugerir algum traço de
afetação de Wenders na sua direção. Ora, pode até ser que isso ocorra em
“Pina”, mas o resultado sensorial de tais opções estéticas do cineasta é
daqueles que dificilmente deixa impassível o espectador, reação essa que a arte
de Pina Bausch costumava causar em seus admiradores.
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