quarta-feira, agosto 15, 2012

Pina, de Wim Wenders ****


Mesmo que você não goste de documentário musical, ache balé um saco, não saiba quem é Pina Bausch e/ou considere Wim Wenders uma mala sem alça, terá de ver “Pina” (2011). Diferente do estilo de filmar objetivo e simples que havia adotado em “Buena Vista Socia Club” (1999), o diretor alemão não faz um mero registro de algumas das principais coreografias da bailarina e dos depoimentos de seus discípulos e parceiros. Wenders utiliza os recursos cinematográficos ao máximo, jogando o espectador para dentro dos espetáculos, quase como se ele interagisse com os bailarinos. Além disso, o filme dimensiona a equação cinema e balé para contextos que extrapolam a mera relação câmera e palco – em boa parte das tomadas, as danças se desenvolvem em ruas, dunas, jardins, riachos, como se os movimentos buscassem uma naturalidade do simples andar. E se há uma associação imediata que se faz entre o gênero documentário e a abordagem realista/naturalista no que diz respeito ao aspecto formal, em “Pina” Wenders não se contenta com tal relação e busca um estilo mais voltado para o expressionista. Isso fica evidente, por exemplo, quando os depoimentos dos bailarinos mostram um descompasso entre a imagem e o áudio, com os diálogos interagindo com exercícios de ação interna dos artistas, num resultado desconcertante.

Talvez a descrição deste texto possa sugerir algum traço de afetação de Wenders na sua direção. Ora, pode até ser que isso ocorra em “Pina”, mas o resultado sensorial de tais opções estéticas do cineasta é daqueles que dificilmente deixa impassível o espectador, reação essa que a arte de Pina Bausch costumava causar em seus admiradores.

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