Um documentário biográfico que tivesse o cineasta
RogérioSganzerla como protagonista não poderia
se contentar em seguir os modelos tradicionais do gênero. Partindo de uma
premissa elementar como essa, Joel Pizzini concebeu “Mr. Ganzerla – Os signos
da luz” (2011), elaborando uma obra que se encontra em perfeita sintonia
artística e emocional com o seu biografado. Na realidade, mais do que narrar
fatos da vida do diretor, o filme busca estabelecer uma conexão sensorial com
as ideias e a filmografia de Sganzerla. Assim, Pizzini abdica de uma narrativa
linear e convencional – depoimentos de amigos e colegas se sobrepõem em formato
aparentemente aleatório, trechos de áudio de entrevistas com Sganzerla filosofando
ou argumentando pontuam as cenas, imagens de arquivo ilustram seu ideário
(principalmente àquelas que se referem ao seu ídolo maior Orson Welles, naquele
período em que o norte-americano desenvolveu um projeto inacabado no Brasil), partes
emblemáticas de seus filmes mais importantes são reproduzidas, temas musicais
de Jimi Hendrix e Gilberto Gil oferecem uma moldura musical que traduz com
sensibilidade o seu criativo e caótico universo cultural. A junção formal
desses elementos pode ser traumática para os não iniciados, mas facilitar
demais as coisas para as plateias nunca foi exatamente o jogo de Sganzerla.
Esse caleidoscópio de imagens, sons e idéias de “Mr. Sganzerla – Os signos da
luz” jogam o espectador para dentro do imaginário perturbador e brilhante de um
autêntico gênio cinematográfico brasileiro.
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