O cineasta uruguaio utiliza uma estética ambígua em “A vida útil”
(2011). Inicialmente, ele adota um rigor
formal quase documental em sua trama fictícia que se desenvolve no ambiente da
Cinemateca de Montevidéu. A sóbria fotografia em preto e branco realça um
ambiente de melancolia e decadência na rotina da instituição. Os funcionários
da cinemateca são interpretados por gente que trabalha realmente lá, inclusive
por seu programador e pelo crítico de cinema Jorge Jellinek (esse último no
papel de protagonista), revelando mais um
traço de uma influência neo-realista. Aos poucos, entretanto, essa ambientação
mais naturalista se abre para uma abordagem diversa, que vai revelando uma
viagem de Veiroj e seu principal personagem por elementos caros ao imaginário
cinematográfico, com claras referências ao cinema mudo e ao expressionismo. Há
um esmerado trabalho visual de claro e escuro em termos de enquadramentos e
iluminação, assim como a trilha sonora revela citações a temas grandiosos,
mesmo que às vezes esse tom épico não esteja de acordo com o tom cotidiano da
trama. Esses contrastes provocam uma sensação de desconcerto e fascinação para
o espectador, jogado “A vida útil” para além do lugar comum.
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