terça-feira, janeiro 15, 2013

A vida útil, de Federico Veiroj ***


O cineasta uruguaio utiliza uma estética ambígua em “A vida útil” (2011). Inicialmente, ele adota um rigor formal quase documental em sua trama fictícia que se desenvolve no ambiente da Cinemateca de Montevidéu. A sóbria fotografia em preto e branco realça um ambiente de melancolia e decadência na rotina da instituição. Os funcionários da cinemateca são interpretados por gente que trabalha realmente lá, inclusive por seu programador e pelo crítico de cinema Jorge Jellinek (esse último no papel de protagonista), revelando mais um traço de uma influência neo-realista. Aos poucos, entretanto, essa ambientação mais naturalista se abre para uma abordagem diversa, que vai revelando uma viagem de Veiroj e seu principal personagem por elementos caros ao imaginário cinematográfico, com claras referências ao cinema mudo e ao expressionismo. Há um esmerado trabalho visual de claro e escuro em termos de enquadramentos e iluminação, assim como a trilha sonora revela citações a temas grandiosos, mesmo que às vezes esse tom épico não esteja de acordo com o tom cotidiano da trama. Esses contrastes provocam uma sensação de desconcerto e fascinação para o espectador, jogado “A vida útil” para além do lugar comum.

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