Há uma esquizofrenia em “O impossível” (2012) – por um lado,
temos um lacrimoso drama familiar repleto de sentimentalismo excessivo e trilha
sonora melosa e grandiosa tocada de forma incessante; por outro, há uma obra
prodigiosa em termos de trucagens e violência gráfica explícita ao recriar o
episódio do devastador tsunami que afligiu a Tailândia em 2004. É quase como se
houvesse dois filmes diferentes dentro de um só. Pode-se dizer que o fator
emocional da produção, com direito a muitas lições de vida sobre perseverança e
união familiar, conquiste parte das platéias, mas a obra se torna realmente
memorável nas seqüências de destruição e brutalidade da invasão das águas, que
impressionam pela qualidade da encenação e da fotografia. Nesses momentos, o
cineasta estabelece um cinema que beira o sensorial, enfatizando detalhes
significativos como o barulho das ondas e a visão caótica de um mundo
desabando. E mostra, por consequência, que essa parte “técnica”, que muitos teóricos
e críticos gostam de mostrar como algo periférico, representa a própria essência
do cinema. Ou vão dizer que o roteiro genérico de “O impossível” é que faz a
diferença??
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