quarta-feira, janeiro 30, 2013

Lincoln, de Steven Spielberg ***



Antes de mais nada, há de se ressaltar os méritos indiscutíveis de “Lincoln” (2012). O diretor Steven Spielberg mostra a sua notória capacidade narrativa ao conceber uma narrativa de quase três horas, repleta de cenas com longos diálogos e soturnos ambientes fechados, em que o espectador não sente muito o tempo passar. A direção de arte do filme também é um ponto alto, trazendo uma interessante combinação entre a fidelidade na recriação histórica e a estilização. Por outro lado, a produção se caracteriza como um dos momentos menos inspirados na filmografia de Spielberg no sentido de criatividade. O grande equívoco da obra está no descompasso do seu texto com a abordagem concebida pelo diretor. O roteiro aparenta uma intenção desmistificadora ao colocar que a emenda abolicionista conquistada pelo protagonista veio à custa de clientelismo e corrupção. Dessa forma, o filme exigiria um estilo de distanciamento emocional, sem arroubos sentimentais, até mesmo de perfil irônico, ou seja, uma abordagem que Spielberg já tinha adotado com brilhantismo no extraordinário “Munique” (2005). O resultado final, entretanto, é diverso: em várias seqüências de “Lincoln”, ele adota um estilo entre o didático e o laudatório, quase como se o filme fosse dedicado a ser exibido em aulas de Moral e Cívica nos EUA. Por mais que a trama procure evocar que não há uma delimitação tão precisa entre o bem (abolicionistas) e o mal (escravagistas), o tratamento oferecido por Spielberg se resume a um conto maniqueísta de mocinhos e bandidos. Pelo menos de cinco em cinco minutos, alguém profere algum discurso edificante, o que reforça ainda mais o caráter “institucional” da coisa toda. E nessa onda, até mesmo o elenco acaba embarcando em interpretações preguiçosas ou destituídas de alguma dimensão humana expressiva – Daniel Day Lewis e Tommy Lee Jones parecem no piloto automático, enquanto Sally Field se limita a um histerismo enjoativo.

No final das contas, “Lincoln” acaba reforçando que Spielberg é um diretor muito mais memorável e capaz de surpreender quando embarcas nas produções ditas “pipocas” como “Tubarão” (1975), “Os caçadores da arca perdida” (1981), “Parque dos dinossauros” (1993)e “As aventuras de Tintim” (2011)

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não que eles estejam no piloto automático, mas que poderiam terem se saído melhores assim poderiam.