quarta-feira, janeiro 16, 2013

As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky ***1/2


Numa primeira impressão, pode-se dizer que “As vantagens de ser invisível” (2012) faz parte daquele tipo de filme que nos últimos tempos praticamente se converteu num gênero – aquelas produções indies que pretendem retratar as relações humanas de forma mais realista, mas tendo por embalagem um jeitão pop, cheio de referências e citações culturais de um universo um tanto específico. Colocar essa produção dirigida por Stephen Chbosky dentro dessa classificação, entretanto, seria um reducionismo. Não que o filme não traga alguns desses elementos, mas a sua pretensão artística é bem mais ampla e interessante. E mesmo tais elementos adquirem um sentido especial na narrativa. Para começar, o roteiro traz um sofisticado jogo de inversão de perspectiva. O protagonista Charlie (Logan Lerman) é um jovem introspectivo e de ambições literárias. Enxergamos a trama do filme pelo seu olhar, e essa visão é a de um pretenso romancista. Nesse contexto, o que se passa aos nossos olhos é uma espécie de crônica de costumes tanto de uma família típica classe média quanto de uma juventude. Não é a toa que em determinada passagem um professor de Charlie lhe recomenda “O grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald para ler – Fitzgerald era um exímio dissecador dos costumes dos novos ricos do início do século XX. Esse paralelo com a literatura traz um dos aspectos mais inquietantes de “As vantagens de ser invisível” – o filme traz uma ambientação atemporal, em que não se consegue precisar com exatidão a época em que se desenrola (pode ser tanto nos final dos anos 90 como em parte desse novo milênio). A brilhante utilização de uma trilha sonora cancioneira realça essa impressão de algo fora do tempo e do espaço, e reforça que a visão de Charlie carrega forte conotação conceitual e por vezes idealizada, em que os comportamentos diferenciados de seus amigos e colegas parecem refletir uma gama complexa de sentimentos e atitudes. Só que a condição de observador do protagonista aos poucos vai se esfacelando, colocando-o em situações limites e também expondo seus demônios interiores. Essa transformação da postura do personagem principal dá uma dimensão artística e humana desconcertante para “As vantagens de ser invisível”, mostrando que o filme tem um alcance universal muito maior que aquela catalogação “indie” mencionada no início desse texto.

Nenhum comentário: