Encarado pela maioria das pessoas apenas como um
entretenimento marcado pela lógica comercial, o universo dos games eletrônicos é
marcado por questões contraditórias e fascinantes. Uma delas é que por mais que
um jogo possa ser interessante e popular, seu destino, quase sempre, será o ostracismo
devido aos constantes avanços tecnológicos e também pela necessidade do mercado
de lançar novidades para um ávido público consumidor. Assim, é normal que após
um tempo sejam jogados em um limbo de esquecimento, fazendo que mundos e
personagens simplesmente se tornem uma vaga lembrança no imaginário dos
apreciadores dos games. Por outro lado, a ênfase em notícias sobre a margem de
faturamento desses jogos pode fazer esquecer que na gênese deles, por parte de
seus respectivos criadores, há uma preocupação com a estética e mesmo com a
coerência temática na criação de figuras e ambientes.
Toda essa breve digressão sobre os video games serve para
tentar explicar como a animação “Detona Ralph” (2012) pode causar comoção tanto
por um certo caráter nostálgico como por algumas reflexões que possa causar. O aludido
conceito da descartabilidade é muito bem trabalhado nessa produção da Disney,
no sentido que a trama dá a entender que o maior medo das criaturas que habitam
as máquinas de um fliperama é justamente cair no esquecimento por parte dos
jogadores que com elas se divertem. Não à toa, os jogos que são desativados
provocam o desemprego dos personagens, transformando os personagens em mendigos
(o que poderia até se encarado como uma metáfora à recessão econômica que
castiga os Estados Unidos e a Europa na atualidade). É claro que por se tratar
de uma produção que na sua origem é voltada por o público infantil, “Detona
Ralph” não é uma obra de natureza sombria ou depressiva. Mesmo com esse
subtexto questionador, o diretor Rich Moore estabelece uma narrativa empolgante
e bem humorada, com direito a seqüências de aventura de encher os olhos.
Aliás, o apuro nas concepções formais de Moore estabelece
uma outra espécie de comentário temático. Quanto o protagonista
Ralph transita entre os jogos, partindo de uma espécie de emulação do ingênuo e
básico “Donkey Kong”, passando por algo no estilo do violento e de grafismo bem
detalhado “Call of Duty” e chegando num game marcado por personagens e visual
entre o fofinho e o psicodélico (algo como um “Mário” mais doidão), é como se o
filme estabelecesse a evolução e diferenciação estéticas no universo dos games,
evidenciando as sutis diferenciações de estilização nesse campo,
caracterizando-o também (e por que não?) como arte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário