segunda-feira, janeiro 07, 2013

Detona Ralph, de Rich Moore ****



Encarado pela maioria das pessoas apenas como um entretenimento marcado pela lógica comercial, o universo dos games eletrônicos é marcado por questões contraditórias e fascinantes. Uma delas é que por mais que um jogo possa ser interessante e popular, seu destino, quase sempre, será o ostracismo devido aos constantes avanços tecnológicos e também pela necessidade do mercado de lançar novidades para um ávido público consumidor. Assim, é normal que após um tempo sejam jogados em um limbo de esquecimento, fazendo que mundos e personagens simplesmente se tornem uma vaga lembrança no imaginário dos apreciadores dos games. Por outro lado, a ênfase em notícias sobre a margem de faturamento desses jogos pode fazer esquecer que na gênese deles, por parte de seus respectivos criadores, há uma preocupação com a estética e mesmo com a coerência temática na criação de figuras e ambientes.

Toda essa breve digressão sobre os video games serve para tentar explicar como a animação “Detona Ralph” (2012) pode causar comoção tanto por um certo caráter nostálgico como por algumas reflexões que possa causar. O aludido conceito da descartabilidade é muito bem trabalhado nessa produção da Disney, no sentido que a trama dá a entender que o maior medo das criaturas que habitam as máquinas de um fliperama é justamente cair no esquecimento por parte dos jogadores que com elas se divertem. Não à toa, os jogos que são desativados provocam o desemprego dos personagens, transformando os personagens em mendigos (o que poderia até se encarado como uma metáfora à recessão econômica que castiga os Estados Unidos e a Europa na atualidade). É claro que por se tratar de uma produção que na sua origem é voltada por o público infantil, “Detona Ralph” não é uma obra de natureza sombria ou depressiva. Mesmo com esse subtexto questionador, o diretor Rich Moore estabelece uma narrativa empolgante e bem humorada, com direito a seqüências de aventura de encher os olhos.

Aliás, o apuro nas concepções formais de Moore estabelece uma outra espécie de comentário temático. Quanto o protagonista Ralph transita entre os jogos, partindo de uma espécie de emulação do ingênuo e básico “Donkey Kong”, passando por algo no estilo do violento e de grafismo bem detalhado “Call of Duty” e chegando num game marcado por personagens e visual entre o fofinho e o psicodélico (algo como um “Mário” mais doidão), é como se o filme estabelecesse a evolução e diferenciação estéticas no universo dos games, evidenciando as sutis diferenciações de estilização nesse campo, caracterizando-o também (e por que não?) como arte.

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