Assim como no filme anterior da diretora Kathyn Bigelow, “Guerra
ao terror” (2008), não dá para dizer exatamente que “A hora mais escura” (2012)
seja uma obra ufanista ou não perante os conflitos dos Estados Unidos com o
Oriente Médio. O filme até tem um estudo histórico preciso e rigoroso ao
mostrar a trajetória das atividades de inteligência e militar dos EUA do início
da década passada até hoje visando a caçada a Osama Bin Laden. A ênfase temática
de Bigelow, entretanto, desloca-se com sutileza para um aspecto mais intimista –
é como se a cineasta estivesse mais interessada nos efeitos que a caçada
obsessiva ao terrorista provocou nos envolvidos, principalmente na protagonista,
a agente Maya (Jessica Chastain). Quando as polêmicas sequências de tortura
surgem, de encenação seca e brutal, o roteiro sugere a contradição em que a
busca da defesa dos valores democráticos acaba utilizando meios que levam à
desumanização de seus praticantes. Por esse ângulo, como falar que o filme pode
justificar a tortura?
A riqueza artística de “A hora mais escura” não se restringe
a sua sobriedade temática. Bigelow volta a demonstrar a sua excelente mão para
o cinema de ação. Ainda que boa parte da trama se desenvolva em gabinetes e
escritórios, com longas cenas de diálogos, a dinâmica da narrativa é
eletrizante, tanto na tensão quanto na violência gráfica. O rigor objetivo da
encenação revela influências de um estilo documental de filmar, mas a diretora
tem a sabedoria de conciliar com nuances dramáticas e emocionais impactantes, o
que não significa uma concessão ao sentimentalismo. Pelo contrário. As escolhas
estéticas de Bigelow vão se revelando cada vez mais coerentes, sendo que a brilhante
meia-hora final do filme, com a operação de invasão ao esconderijo de Bin Laden
e sua execução, é uma aula de concisão cinematográfica.
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