segunda-feira, março 04, 2013

Meu amigo Cláudia, de Dácio Pinheiro ***


Nas primeiras seqüências de “Meu amigo Cláudia” (2009), pode-se ter a impressão de uma obra de alcance muito específico. Afinal, a narrativa fica concentrada na biografia do transexual Cláudia Wonder, focando mais os aspectos intimistas da sua figura protagonista. Com o desenvolver do documentário, entretanto, o filme vai ganhando uma conotação mais abrangente. Afinal, Cláudia participou de alguns filmes da ativa indústria de filmes eróticos nos anos 70 e 80, além de ter sido vocalista de bandas roqueiras que militavam no underground paulista da década de 80. Assim, o diretor Dácio Pinheiro consegue oferecer um interessante panorama cultural e comportamental da época, mostrando muitos dos dilemas e contradições de uma geração que recém saía da sombra tenebrosa da ditadura e se via diante de possibilidades criativas que antes lhes eram vedadas, caindo assim num período de alta efervescência artística e também de muitos excessos em todos os sentidos. Uma das mais interessantes contraposições do filme é mostrar que esse período de intensa atividade cultural e comportamental revelava uma concepção de arte que fugia dos compromissos com um certo padrão de bom gosto e de assepsia que hoje em dia ditam muito dos caminhos artísticos. Nesse sentido, Pinheiro parece fazer uma declaração de fé de sua admiração por aqueles padrões artísticos oitentistas ao utilizar uma abordagem estética mais suja, em que por vezes a imagem evoca as imperfeições de uma gravação em VHS, além da edição buscar um estilo de colagem de imagens de arquivo e depoimentos recentes.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti sabado no Cinbancários. Recomendo.