Nas primeiras seqüências de “Meu amigo Cláudia” (2009),
pode-se ter a impressão de uma obra de alcance muito específico. Afinal, a
narrativa fica concentrada na biografia do transexual Cláudia Wonder, focando
mais os aspectos intimistas da sua figura protagonista.
Com o desenvolver do documentário, entretanto, o filme vai ganhando uma conotação
mais abrangente. Afinal, Cláudia participou de alguns filmes da ativa indústria
de filmes eróticos nos anos 70 e 80, além de ter sido vocalista de bandas roqueiras
que militavam no underground paulista da década de 80. Assim, o diretor Dácio
Pinheiro consegue oferecer um interessante panorama cultural e comportamental
da época, mostrando muitos dos dilemas e contradições de uma geração que recém
saía da sombra tenebrosa da ditadura e se via diante de possibilidades
criativas que antes lhes eram vedadas, caindo assim num período de alta efervescência
artística e também de muitos excessos em todos os sentidos. Uma das mais
interessantes contraposições do filme é mostrar que esse período de intensa
atividade cultural e comportamental revelava uma concepção de arte que fugia
dos compromissos com um certo padrão de bom gosto e de assepsia que hoje em dia
ditam muito dos caminhos artísticos. Nesse sentido, Pinheiro parece fazer uma
declaração de fé de sua admiração por aqueles padrões artísticos oitentistas ao
utilizar uma abordagem estética mais suja, em que por vezes a imagem evoca as imperfeições
de uma gravação em VHS, além da edição buscar um estilo de colagem de imagens
de arquivo e depoimentos recentes.
Um comentário:
Assisti sabado no Cinbancários. Recomendo.
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