segunda-feira, março 11, 2013

Hitchcock, de Sacha Gervasi ***1/2



É claro que os aspectos históricos da trama biográfica de “Hitchcock” (2012) são saborosos, configurando um forte atrativo para cinéfilos e neófitos. A grande força do filme de Sacha Gervasi, entretanto, está na sua construção estética. A trama da obra se desenvolve a partir de um processo tortuoso e fascinante – o caso real dos múltiplos assassinatos cometidos pelo psicopata Ed Gein se transformou no livro ficcional chamado “Psicose” que foi adaptado por Hitchcock no clássico do suspense de 1960 e, por fim, todas essas ramificações se unem no roteiro da produção de Gervasi. Essa atribulada trajetória não é recriada por um viés necessariamente naturalista ou exatamente fieis aos fatos. O que se apresenta na tela é muito mais os aspectos lendários que rondam o nosso imaginário cinematográfico sobre Hitchcock e “Psicose”, sem que, contudo, a produção deixe de ser muito esclarecedora sobre os mecanismos de realização e dos interesses que envolviam (e ainda envolvem) a indústria de cinema em Hollywood.

No seu formalismo, há uma grande sacada estética por parte de Gervasi em “Hitchcock” – apesar de biográfico, ele formata o filme como se fosse uma obra de suspense, na melhor tradição de seu protagonista. As viradas do roteiro, as ambientações tensas, a trilha sonora quase paródica a emular temas de Bernard Herrmann, habitual colaborador de Hitchcock – tudo funciona como uma espécie de caricatura irônica do próprio estilo do cineasta. Essa viagem pelas concepções artísticas do diretor, por vezes, chega às raias do perturbador, vide as seqüências oníricas (ou mesmo delirantes) em que Hitchcock interage com Ed Gein tanto como pesquisa para “Psicose” como para aconselhamentos pessoais.... É por essa abordagem insólita que “Hitchcock” se impõe como umas das obras recentes mais contundentes a discutir o fazer cinematográfico, além de valorizar de forma perspicaz o gênio estilístico de um dos maiores mestres do cinema.

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