A trajetória artística do cineasta norte-americano Sam Raimi
é bastante emblemática no sentido de representar as contradições da indústria
cinematográfica contemporânea nos Estados Unidos. No seu início de carreira,
foi um dos grandes nomes do cinema independente de seu país, em que as condições
modestas de produção contrastavam com o alto nível de criatividade estética. A
sua trilogia “Evil Dead” é o ápice dessa fase. Quando ingressou no ritmo dos
grandes estúdios e teve à sua disposição uma infra-estrutura maior, Raimi
conseguiu em alguns momentos preservar a sua assinatura autoral, resultando em
algumas obras antológicas (“Darkman”, “Um plano simples”, “Homem-aranha 2” e “Arrasta-me
para o inferno”). Em algumas outras ocasiões, entretanto, a pressão dos produtores
para entregar um filme de acordo com os padrões médios do mercado falou mais
alto. “Oz, mágico e poderoso” (2013) se encaixa nesse último caso. Não que o
filme seja completamente descaracterizado de traços estilísticos típicos de
Raimi. Em algumas seqüências, dá para ver a boa mão do diretor para o cinema
fantástico – o pique alucinado e cartunesco de determinadas seqüências de ação
(em que há uma interessante conjugação entre a encenação live action com animação)
e a personalíssima caracterização visual de personagens e cenários fazem valer
o ingresso. Além disso, Raimi consegue extrair algumas interpretações
fortemente carismáticas de seu elenco, principalmente no caso de James Franco e
Michelle Williams. O que impede “Oz” de vôos criativos mais altos é uma
narrativa por vezes demasiadamente convencional, que faz com que a tensão dramática
seja de baixa densidade. No final das contas, é uma produção curiosa, mas que
deixa a permanente sensação de que poderia ter sido muito melhor.
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