O romance “Os miseráveis” de Vitor Hugo é uma das grandes
obras literárias a tratar sobre o humanismo. O livro trafega de forma constante
num tênue limite, em que seu caráter fortemente dramático e emocional parece
sempre à beira de descambar para o sentimentalismo excessivo, coisa que a pena
afiada do escritor não permite. Essa versão mais recente (2012) do romance é
baseada num musical da Broadway que adaptou o romance em questão. Devido a tal
origem, é evidente que há o perigo que predomine o exagero kitsch – e é o que
acaba acontecendo, com o diretor Tom Hooper transformando a trágica trajetória
do protagonista Jean Valjean (Hugh Jackman)
num exagerado espetáculo embregalhado, repleto de grandiloquentes e melosas
canções de gosto duvidoso e uma encenação destituída de qualquer senso de
sutileza. Além disso, Hooper por vezes se equivoca ao apelar para uma concepção
visual digna de vídeo clips da MTV. “Os miseráveis”, entretanto, está longe de
ser esse desastre completo que se anda comentando entre público e crítica. A
reconstituição estilizada da Paris do século XIX revela certo encanto visual, e
por vezes o filme até consegue ser divertido ao apresentar uma narrativa de
eventuais tons delirantes. Mesmo o elenco apresenta algumas atuações
cativantes, principalmente no caso de Jackman, Helena Bonham Carter e Sacha Baron
Cohen. No final das contas, fica valendo como curiosidade, apesar da frustração
de não conseguir captar com alguma fidelidade a essência do brilhante original
de Vitor Hugo (ao contrário, por exemplo, da extraordinária versão cinematográfica
de “Anna Karenina” concebida por Joe Wright, também lançada em 2012).
Um comentário:
Amei o filme assistindo duas vezes no cinema.
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