Assim como em “Bug – Possuídos” (2006), o diretor William
Friedkin usa como base de trama em “Killer Joe – Matador de aluguel” (2012) uma
peça teatral. Mas isso não quer dizer que temos puro teatro filmado. Ainda mais
que Friedkin é um dos grandes mestres vivos da manipulação da linguagem
cinematográfica. Nesse seu filme mais recente, o cineasta não esquece as raízes
de dramaturgia de seu roteiro. É visível em várias passagens do filme uma
atmosfera que não se limita ao naturalismo, em uma narrativa cujo tom exagerado
por vezes beira o delirante. Assim, por mais que se evoque uma linha temática
que descenda da sordidez típica do policial noir (e, por conseqüência, lembre
algumas produções dos Irmãos Coen), “Killer Joe” possui uma estética muito própria.
Os personagens se arrastam em cena como se estivessem em um drama grego trágico
clássico, onde cada diálogo e cada gesto carregam uma simbologia obscura. O
efeito sensorial é desconcertante, até porque Friedkin não se priva de abusar
de uma violência grotesca e até cômica. A sua noção de utilização de recintos
fechados é igualmente criativa e perturbadora – a composição cênica, os
enquadramentos e a iluminação compõem um todo imagético de forte teor
estilizado, remetendo a uma metáfora visual de que os personagens
progressivamente rumam para seus infernos pessoais. Nesse sentido, a noção do
desenrolar dramático da narrativa é de condução exemplar, chegando a uma
conclusão climática de pura catarse negativista. A impressão final aparente que
se pode ter é de uma espécie de cruzamento bastardo entre o onirismo enviesado
de David Lynch com o virtuosismo típicos de Brian De Palma e dos já mencionados
Coen. No final das contas, entretanto, é apenas Friedkin se voltando cada vez
mais para padrões autorais muito particulares, mas essenciais para o cinema
contemporâneo.
2 comentários:
Parece que depois de velhão, o diretor do clássico O Exorcista volta aos trilhos.
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