Seria muito reducionista tentar analisar essa mais recente
versão cinematográfica de “Anna Karenina” (2012) pelo ângulo de uma simples
comparação com o original literário de Léon Tolstoi. Até porque não haveria
como condensar todos os detalhes de um romance de 800 páginas em um filme de
pouco mais de duas horas. Na realidade, a pretensão do diretor Joe Wright é
muito mais ousada do que uma simples transcrição visual daquilo que está no
livro. Assim como já havia feito no extraordinário “Orgulho e preconceito” (2005),
o que o cineasta elaborou foi uma tradução sensorial da história concebida por
Tolstoi, condensando no roteiro aquilo que há de essencial. Para isso, recorre
a um aparato estético fortemente barroco e até intrincado, mas que se mostra em
perfeita sintonia com os ideais do escritor russo. A fusão que se dá entre
cinema e teatro não é gratuita, evidenciando até uma verve irônica perversa –
afinal, o teatro era um dos principais pontos da vida social da sociedade russa
no século XIX. O filme sugere que as relações humanas naquele meio eram tão
cerimoniosas e hipócritas que na realidade acabavam se configurando como
encenação da própria vida. Para ilustrar tais preceitos de estilização da
narrativa, Wright transforma “Anna Karenina” em um show de virtuosismo, repleto
de planos sequências estonteantes, uso de sons ambientais que evocam um insólito
tom de musical, fotografia de iluminação que beira o irreal e edição cujos
cortes e fusões de imagem enfatizam ainda mais o caráter algo delirante da
narrativa. O aparente exagero de truques formais não faz com que “Anna Karenina”
caia no hermetismo estéril. Pelo contrário – propicia ao espectador que entre
no imaginário tanto de uma época quanto da mente de um escritor tão brilhante
quanto Tolstoi. Quem dera que a maioria das adaptações para o cinema de um
livro fosse assim...
Um comentário:
Achei surpreendente a forma de apresentação da historia e coloquei como destaque principal na minha critica.
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