quarta-feira, março 20, 2013

Anna Karenina, de Joe Wright ****


Seria muito reducionista tentar analisar essa mais recente versão cinematográfica de “Anna Karenina” (2012) pelo ângulo de uma simples comparação com o original literário de Léon Tolstoi. Até porque não haveria como condensar todos os detalhes de um romance de 800 páginas em um filme de pouco mais de duas horas. Na realidade, a pretensão do diretor Joe Wright é muito mais ousada do que uma simples transcrição visual daquilo que está no livro. Assim como já havia feito no extraordinário “Orgulho e preconceito” (2005), o que o cineasta elaborou foi uma tradução sensorial da história concebida por Tolstoi, condensando no roteiro aquilo que há de essencial. Para isso, recorre a um aparato estético fortemente barroco e até intrincado, mas que se mostra em perfeita sintonia com os ideais do escritor russo. A fusão que se dá entre cinema e teatro não é gratuita, evidenciando até uma verve irônica perversa – afinal, o teatro era um dos principais pontos da vida social da sociedade russa no século XIX. O filme sugere que as relações humanas naquele meio eram tão cerimoniosas e hipócritas que na realidade acabavam se configurando como encenação da própria vida. Para ilustrar tais preceitos de estilização da narrativa, Wright transforma “Anna Karenina” em um show de virtuosismo, repleto de planos sequências estonteantes, uso de sons ambientais que evocam um insólito tom de musical, fotografia de iluminação que beira o irreal e edição cujos cortes e fusões de imagem enfatizam ainda mais o caráter algo delirante da narrativa. O aparente exagero de truques formais não faz com que “Anna Karenina” caia no hermetismo estéril. Pelo contrário – propicia ao espectador que entre no imaginário tanto de uma época quanto da mente de um escritor tão brilhante quanto Tolstoi. Quem dera que a maioria das adaptações para o cinema de um livro fosse assim...

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Achei surpreendente a forma de apresentação da historia e coloquei como destaque principal na minha critica.