Pode-se dizer que a metade inicial de “Argo” (2012) mostra
um trabalho formal bem definido e até com um certo traço autoral. O filme evoca
bastante a estética típica do cinema de viés político norte americano dos anos
70 na linha de obras como “Três dias de Condor” (1975) e “Todos os homens do
presidente” (1976) - até os créditos iniciais com o ícone do estúdio apresenta
esse estilo retrô. Nessa formatação, o diretor Ben Affeck abusa da narrativa
por vezes quase documental e da fotografia de tons granulados. Também no início
do filme, o roteiro sugere uma visão mais crítica sobre a questão dos conflitos
políticos dentro do Irã, ressaltando a própria participação dos Estados Unidos
para que a situação chegasse a um ponto tão explosivo quanto aquela da época
(final da década de 1970). Nessa conjunção estética e temática, “Argo” se
mostra uma produção realmente inquietante. Ocorre que em sua metade final, o filme
muda seu direcionamento. Affleck adota uma
abordagem bem mais convencional, além de mostrar uma visão política claramente
maniqueísta, com os iranianos sendo retratados como animais fanatizados. Por
mais que a seqüência de fuga no aeroporto possa soar emocionante para parte dos
espectadores, também revela uma incômoda falta de coerência que todo aquele
estilo mais cerebral e contido do início do filme. Talvez essas diferenças
entre as metades inicial e final de “Argo” reflitam uma esquizofrenia criativa
por parte de Affleck. No final das contas, entretanto, é provável que se mostre
como uma forma de adequação progressiva a um gosto médio das plateias.
Um comentário:
Foi uma virada de mesa na carreira de Affleck definitivamente
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