sexta-feira, abril 12, 2013

Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesi ***


O diretor Luiz Bolognesi buscou soluções artísticas que fogem de alguns dos padrões vigentes na animação “Uma história de amor e fúria” (2012). O resultado final da obra mostra que ter arriscado acabou valendo à pena. Na parte formal, o traço se afasta do realismo digital vigente no atual panorama das animações, apostando mais num traço estilizado, evocando a escola européia na linha “Heavy Metal” (revista e filme). O filme também apresenta uma diversidade de abordagem visual admirável, indo desde um grafismo de tons suaves e nostálgicos, que remete a um universo pictórico clássico, passando por sombrias matizes cinzentas (quando a trama retrata os anos de chumbo da ditadura) e chegando num estilo repleto de cores, luzes e arquiteturas excêntricas, ao retratar um futuro distópico. Apesar de tal variação estética, Bolognesi mantém unidade e coerência em cada um desses estilos. Esse formalismo reveste com sutileza as arestas do roteiro – nesse último quesito, “Uma história de amor e fúria” se apresenta ainda mais ousado, ao não esconder uma visão histórica e social bastante pessoal e ideologizada, beirando o panfletarismo. Ingênua ou não, o que importa é que tal visão acaba criando forte empatia, estabelecendo uma linha de opressores (portugueses colonizadores, império, ditadura militar e corporações) que configuram como um grande mal a ser combatido (mesmo que detenham os plenos poderes institucionais). Sobra até para o Duque de Caxias, retratado como um malévolo comandante a massacrar rebeldes bem intencionados. Em tempos que a mídia puxa o saco de um papa latino-americano, é notável que uma produção como essa consiga aliar uma narrativa de aventura envolvente com um lado bastante reflexivo sobre os valores distorcidos e as mazelas da história brasileira.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Pretendo ver semana que vem