Com base no roteiro e nas próprias experiências pessoais de
seu pai Flávio Tavares, o diretor Camilo Tavares realiza em “O dia que durou 21
anos” (2012) uma obra de nítido caráter panfletário. Ao retratar a participação
do governo norte-americano no golpe militar de 1964 ocorrido no Brasil, o
documentário não se constrange em vilanizar de forma ostensiva tanto os agentes
estrangeiros quanto os sombrios oficiais que derrubaram João Goulart e
instauraram uma ditadura no país. Não dá para dizer, entretanto, que isso seja
especialmente um demérito da produção. Afinal, é bastante difícil conceber um
filme político sem deixar impresso alguma visão pessoal e ideológica sobre os
fatos retratados. Na realidade, é até esse subjetivismo que delineia e
personaliza como arte a visão autoral do realizador. Nesse sentido, “O dia que
durou 21 anos” resulta numa obra vigorosa e criativa. Além dos habituais
depoimentos reveladores e de preciosas cenas de arquivo, o documentário se notabiliza
por um trabalho de edição bastante hábil que dá uma dimensão contundente e até
lúdica na abordagem estética de Tavares. As trucagens insinuam um clima de
thriller político, principalmente quando fundem fotografias com filmagens e
trechos de áudio. De certa forma, reforça aqueles questionamentos sobre os
limites entre o cinema verdade e o ficcional, mostrando que as fronteiras entre
tais vertentes são tênues a um ponto perturbador.
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