segunda-feira, abril 08, 2013

O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares ***


Com base no roteiro e nas próprias experiências pessoais de seu pai Flávio Tavares, o diretor Camilo Tavares realiza em “O dia que durou 21 anos” (2012) uma obra de nítido caráter panfletário. Ao retratar a participação do governo norte-americano no golpe militar de 1964 ocorrido no Brasil, o documentário não se constrange em vilanizar de forma ostensiva tanto os agentes estrangeiros quanto os sombrios oficiais que derrubaram João Goulart e instauraram uma ditadura no país. Não dá para dizer, entretanto, que isso seja especialmente um demérito da produção. Afinal, é bastante difícil conceber um filme político sem deixar impresso alguma visão pessoal e ideológica sobre os fatos retratados. Na realidade, é até esse subjetivismo que delineia e personaliza como arte a visão autoral do realizador. Nesse sentido, “O dia que durou 21 anos” resulta numa obra vigorosa e criativa. Além dos habituais depoimentos reveladores e de preciosas cenas de arquivo, o documentário se notabiliza por um trabalho de edição bastante hábil que dá uma dimensão contundente e até lúdica na abordagem estética de Tavares. As trucagens insinuam um clima de thriller político, principalmente quando fundem fotografias com filmagens e trechos de áudio. De certa forma, reforça aqueles questionamentos sobre os limites entre o cinema verdade e o ficcional, mostrando que as fronteiras entre tais vertentes são tênues a um ponto perturbador.

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