quinta-feira, abril 18, 2013

Deste lado da ressureição, de Joaquim Sapinho **1/2


A última coisa que se pode querer acusar o diretor português Joaquim Sapinho em “Deste lado da ressurreição” (2011) é de querer facilitar as coisas para o espectador. Seu filme tem um roteiro repleto de situações que mais sugerem do que explicam. Os dilemas e traumas dos personagens nunca ficam bem esclarecidos – só se pode saber que são graves a um ponto de gerarem várias lamúrias e até autofragelações. Para complicar ainda mais, tudo isso é temperado por uma atmosfera católica, onde culpa e uma improvável redenção rondam a história. A abordagem formal de Sapinho se mostra em sintonia com o seu hermetismo temático, pois a narrativa é vagarosa, abusando de longos e fixos planos sequência e ações repetidas. A ausência de uma trilha sonora musical acentua ainda mais essa aridez. Tais escolhas artísticas refletem influências bem definidas do diretor que vem desde do neo-realismo italiano até obras recentes do cinema iraniano. Essa estética exasperante de Sapinho parece querer jogar quem assiste ao filme direto nos tormentos existenciais de suas criaturas (ainda que por vezes mais estimule uma certa sensação de vazio e tédio). Por outro lado, a produção tem um encanto visual cativante em alguns momentos. As tomadas marinhas, por exemplo, trazem uma concepção bastante criativa: ao retratar o protagonista (e surfista) Rafael (Pedro Souza) no mar, o registro audiovisual traz crueza e dinâmica que evocam uma espécie de tom documental naturalista, como se o personagem conseguisse apenas atingir sua integridade existencial quando está na água surfando. E é nesse limite entre a letargia e o insólito que “Deste lado da ressureição” trafega. Ainda que aborreça em determinadas sequências, é inegável a sensação de inquietação que passa.