Em uma primeira impressão, pode-se perceber uma pretensa
abordagem formal e temática contida por parte da produção mexicana “Depois de Lúcia”
(2012) – ausência de trilha sonora, edição de cortes sóbrios, narrativa de dinâmica
serena e que se apóia por vezes em longos planos sequência. Tais escolhas do
diretor Michel Franco poderiam levar à conclusão de que o filme seria uma análise
séria sobre a questão do bulling entre adolescente. Ocorre, entretanto, que há
uma perversidade que beira o irônico em determinadas nuances da obra à medida
que o roteiro se desenrola. As cenas de violência psicológica e física cometida
contra a protagonista Alejandra (Tessa Ia) por
seus colegas de escola são perturbadoras, mas também trazem uma conotação
exagerada que lembra muito o contexto de produções exploitation típicas dos
anos 70. Interessante também que o roteiro de “Depois de Lúcia” traz uma carga
simbolista notável que vai muito além do simples retrato de um problema
contemporâneo. A figura de Roberto (Hernán Mendoza), pai de Alejandra, traz um
significado que está mais para tragédia grega de caráter universal do que para
um exemplar de pai classe média do século XXI – imerso em dor e culpa pela
morte da esposa, o personagem parece encontrar uma possibilidade de redenção e
de extravasar suas frustrações quando descobre os abusos sofridos pela filha.
Sua sinistra e politicamente incorreta vingança na conclusão do filme é catártica,
como se o próprio espectador se sentisse com a alma lavada depois de todos os
tormentos que Roberto e Alejandra sofreram. De certa forma, é quase como se “Desejo
de matar” fosse atualizado para os tempos atuais e ainda com uma certa aura
cult!!
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