terça-feira, abril 02, 2013

Depois de Lúcia, de Michel Franco ***1/2


Em uma primeira impressão, pode-se perceber uma pretensa abordagem formal e temática contida por parte da produção mexicana “Depois de Lúcia” (2012) – ausência de trilha sonora, edição de cortes sóbrios, narrativa de dinâmica serena e que se apóia por vezes em longos planos sequência. Tais escolhas do diretor Michel Franco poderiam levar à conclusão de que o filme seria uma análise séria sobre a questão do bulling entre adolescente. Ocorre, entretanto, que há uma perversidade que beira o irônico em determinadas nuances da obra à medida que o roteiro se desenrola. As cenas de violência psicológica e física cometida contra a protagonista Alejandra (Tessa Ia) por seus colegas de escola são perturbadoras, mas também trazem uma conotação exagerada que lembra muito o contexto de produções exploitation típicas dos anos 70. Interessante também que o roteiro de “Depois de Lúcia” traz uma carga simbolista notável que vai muito além do simples retrato de um problema contemporâneo. A figura de Roberto (Hernán Mendoza), pai de Alejandra, traz um significado que está mais para tragédia grega de caráter universal do que para um exemplar de pai classe média do século XXI – imerso em dor e culpa pela morte da esposa, o personagem parece encontrar uma possibilidade de redenção e de extravasar suas frustrações quando descobre os abusos sofridos pela filha. Sua sinistra e politicamente incorreta vingança na conclusão do filme é catártica, como se o próprio espectador se sentisse com a alma lavada depois de todos os tormentos que Roberto e Alejandra sofreram. De certa forma, é quase como se “Desejo de matar” fosse atualizado para os tempos atuais e ainda com uma certa aura cult!!

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