Vendo uma obra como “Sangue do meu sangue” (2011) pode-se
perceber que filmes de temática social não se diferem muito de um país para
outro (a não ser que quem esteja por trás das câmeras seja um Ken Loach). De
certa forma, chega a ser uma receita bastante simples: olhar mais árido sobre o
cotidiano, atores de interpretações naturalistas, registro formal objetivo,
beirando o documental. A produção portuguesa dirigida por João Canijo utiliza
todos esses elementos de forma rígida, e por vezes até lembra alguns filmes de
Walter Salles (com essa crise econômica mundial, parece que os problemas dos
nossos irmãos lusos não são muito diferentes dos nossos...). Mesmo assim, “Sangue
do meu sangue” consegue encontrar espaço para surpreender. Por vezes, o roteiro
traz uma variação até incômoda: se algumas situações batem em clichês melodramáticos
(homem descobre que sua jovem amante na verdade é sua filha, fruto de uma
transa eventual de décadas atrás), outras trazem uma visão contundente e
complexa dos relacionamentos humanos. Nesse último campo, destaque absoluto
para uma perturbadora seqüência de sexo forçado entre um chefe do tráfico e a
tia de um de seus empregados, num momento de ambiguidade notável entre o
grotesco e a amargura. Dá para imaginar se Canijo não andou lendo alguma peça
de Nelson Rodrigues...
Um comentário:
Otima dica.
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