A narrativa de “O último Elvis” (2011) caminha aparentemente
por uma linha tênue entre o naturalismo e o melodrama. O filme dirigido por
Armando Bo traz uma trama que se alterna entre o retrato seco do cotidiano de um
operário que nas horas vagas age como se fosse o próprio Elvis Presley e o
retrato agridoce de seu relacionamento difícil com a filha pequena. Ocorre que
aos poucos a obra vai ganhando uma dimensão sardônica e por vezes até épica. Os
encontros do protagonista Carlos Gutiérrez
(John McInermy) com outras figuras insólitas que mimetizam outros ídolos do
passado trazem um ingrediente que beira o grotesco, enquanto alguns números
musicais em que Gutiérrez encarna Elvis realmente impressionam pela qualidade e
grau de intensidade das interpretações de McInermy. Na realidade, “O último
Elvis” se mantém em uma constante dicotomia entre a dura realidade proletária
de Gutiérrez e o mundo de fantasia em que ele vive. E o que em um primeiro
momento parecia mera excentricidade vai se revelando uma espécie de progressiva
jornada rumo à loucura. A visão da obra sobre a trajetória de seu protagonista
é inclemente – nem mesmo o carinho da filha de Gutiérrez consegue servir como
alguma espécie de redenção para o personagem. Essa coerência temática e sem
concessões se mantém numa conclusão de insólita beleza melancólica.
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