terça-feira, abril 09, 2013

O último Elvis, de Armando Bo ***


A narrativa de “O último Elvis” (2011) caminha aparentemente por uma linha tênue entre o naturalismo e o melodrama. O filme dirigido por Armando Bo traz uma trama que se alterna entre o retrato seco do cotidiano de um operário que nas horas vagas age como se fosse o próprio Elvis Presley e o retrato agridoce de seu relacionamento difícil com a filha pequena. Ocorre que aos poucos a obra vai ganhando uma dimensão sardônica e por vezes até épica. Os encontros do protagonista Carlos Gutiérrez (John McInermy) com outras figuras insólitas que mimetizam outros ídolos do passado trazem um ingrediente que beira o grotesco, enquanto alguns números musicais em que Gutiérrez encarna Elvis realmente impressionam pela qualidade e grau de intensidade das interpretações de McInermy. Na realidade, “O último Elvis” se mantém em uma constante dicotomia entre a dura realidade proletária de Gutiérrez e o mundo de fantasia em que ele vive. E o que em um primeiro momento parecia mera excentricidade vai se revelando uma espécie de progressiva jornada rumo à loucura. A visão da obra sobre a trajetória de seu protagonista é inclemente – nem mesmo o carinho da filha de Gutiérrez consegue servir como alguma espécie de redenção para o personagem. Essa coerência temática e sem concessões se mantém numa conclusão de insólita beleza melancólica.

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