quarta-feira, abril 03, 2013

As quatro voltas, de Michelangelo Frammartino ***1/2


A abordagem estética e temática concebida pelo diretor Michelangelo Frammartino para “As quatro voltas” (2010) se insere dentro uma tradição cara ao cinema italiano, que é aquela vertente que busca uma linguagem mais crua e realista. Isso pode ser verificado tanto no fundamental movimento do neo-realismo, proeminente nas décadas de 40 e 50, quanto em obras clássicas como “Pai Patrão” (1977) e “A árvores dos tamancos” (1978). O filme de Frammartino, mesmo não estando no mesmo nível artístico das obras-primas mencionadas, é uma produção de vigor e de caráter personalíssimo. Propõe uma insólita combinação entre ficção e documentário a um ponto que fica difícil separar um do outro. A forma com que as situações da trama são filmadas sugere naturalismo e um tom quase casual, mas na realidade é encenação. E o que se pressupõe aleatório em um primeiro momento se mostra como um rigor estético de Frammartino, em meio a longos planos sequência que registram a ação da maneira obsessiva em seus detalhes. Esse formalismo minucioso se revela fundamental para realçar um dos aspectos mais fascinantes de “As quatro voltas” que é o seu intrincado simbolismo, em que as trajetórias de três protagonistas (um pastor, uma cabra e uma árvore) correm em paralelo e refletem a conflituosa relação do homem com a natureza.

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