A abordagem estética e temática concebida pelo diretor
Michelangelo Frammartino para “As quatro voltas” (2010) se insere dentro uma
tradição cara ao cinema italiano, que é aquela vertente que busca uma linguagem
mais crua e realista. Isso pode ser verificado tanto no fundamental movimento
do neo-realismo, proeminente nas décadas de 40 e 50, quanto em obras clássicas
como “Pai Patrão” (1977) e “A árvores dos tamancos” (1978). O filme de
Frammartino, mesmo não estando no mesmo nível artístico das obras-primas
mencionadas, é uma produção de vigor e de caráter personalíssimo. Propõe uma
insólita combinação entre ficção e documentário a um ponto que fica difícil
separar um do outro. A forma com que as situações da trama são filmadas sugere
naturalismo e um tom quase casual, mas na realidade é encenação. E o que se
pressupõe aleatório em um primeiro momento se mostra como um rigor estético de
Frammartino, em meio a longos planos sequência que registram a ação da maneira
obsessiva em seus detalhes. Esse formalismo minucioso se revela fundamental
para realçar um dos aspectos mais fascinantes de “As quatro voltas” que é o seu
intrincado simbolismo, em que as trajetórias de três protagonistas
(um pastor, uma cabra e uma árvore) correm em paralelo e refletem a conflituosa
relação do homem com a natureza.
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