A multiplicidade de personagens interpretadas por um protagonista
misterioso (Denis Lavant) é reflexo de um dos aspectos mais intrigantes de “Holy
Motors” (2012), que é o fato do seu roteiro compilar mais de um gênero – drama,
comédia, ficção científica, fantasia, suspense, horror. O insólito dessa
proposta não representa mera aleatoriedade. No meio desse aparente caos temático,
o diretor Leos Carax estabelece uma lógica própria e de encanto perturbador. A
diversidade de gêneros propicia que Carax se aventure por abordagens formais
diferentes que tanto podem se complementar quanto entrarem em choque. É como se
o espectador entrasse numa montanha russa sensorial. Se por vezes as situações
da trama e a concepção estética enveredam por um visual delirante e pela
narrativa de caráter simbólico, em outros momentos a linguagem beira o
naturalismo. Assim, a criatividade textual e estilística da Carax é intensa em “Holy
Motors”, fazendo com que até mesmo Paris se torne um personagem próprio, com a
cidade variando do retrô até uma ambientação onírica e/ou futurista. A
desconcertante conclusão da obra, de viés fabular, mais levanta dúvidas do que
esclarece a loucura narrativa apresentada. Tal desfecho, entretanto, é coerente
com o perfil artístico de “Holy Motors” e acentua ainda mais a visão
inquietante do mundo pelos olhos de Carax.
Um comentário:
Se fossemos resumir o filme, seria na realidade uma homenagem ao propio cinema em si. Não e´ a toa que a trama se passa em Paris, onde o cinema nasceu.
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