Na obra original literária, “O grande Gatsby” é uma tradução
exemplar das obsessões temáticas de seu autor Scott Fitzgerald. Sua trama
refletia como o hedonismo de festa, sexo e álcool típico dos anos 20 escondia
um tremendo vazio existencial daquela geração. Assim, num primeiro momento, o
fato da versão cinematográfica de “O grande Gatsby” (2013) trazer como diretor
o australiano Baz Luhrmann faria um certo sentido. Afinal, a cinematografia do
cineasta é marcada por obras visualmente opulentas, beirando o barroco, o que
estaria em sintonia com as grandiosas festas dadas pelo protagonista
Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). O resultado final dessa união entre os
universos artísticos de Fitzgerald e Luhumann, entretanto, acabou sendo
indigesto. Os exageros estéticos do diretor podem passar uma certa impressão de
ousadia formal, mas na realidade estão mais para uma fórmula equivocada que por
vezes é levada à exaustão (além de eliminar um dos prazeres mais apreciáveis do
livro que é a sutileza emocional). A encenação histérica, a fotografia de tons
coloridos ostensivos e a edição frenética da primeira metade do filme fazem com
que tudo pareça um grande vídeo clip (ainda que a trilha sonora misturando música
de época com rap e rock seja uma bela sacada). Essa confusão estilística deve
ter cansado até o próprio Luhrmann, pois na metade final o filme ganha uma
narrativa mais convencional e amorfa, o que torna a produção bastante
descompassada. Mais do que uma versão cinematográfica inferior ao seu original
literário, “O grande Gatsby” é um filme que incomoda pelos seus equívocos e
irregularidades como cinema propriamente dito.
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