Em seus dois terços iniciais, pode-se dizer que “Abismo
prateado” (2011) apresenta uma concepção formal em sintonias com outras obras
anteriores do diretor Karim Aïnouz. Privilegia-se uma narrativa de tons
sensoriais – o foco está concentrado muito mais nas reações e expressões da
personagem Violeta (Alessandra Negrini, em atuação visceral) do que na explicação
dos motivos de suas angústias. Essa opção faz com que haja uma atmosfera tensa
e perturbadora para o filme. Aos poucos, as explicações vão surgindo, em
pequenos e sutis detalhes do roteiro. Aïnouz revela uma expressiva
engenhosidade temática: ao expor as entranhas do intimismo de uma relação
amorosa, também evidenciando uma série de questionamentos a valores
pequeno-burgueses de suas criaturas. No terço final, a produção toma um
direcionamento diverso, quando Violeta conhece uma menina e seu pai, família de
origem humilde, o que faz com que ela questione as suas motivações. Tal recurso
da trama parece sugerir um desejo de Aïnouz em se aproximar daquele cinema mais
sentimental e de valorização do “Brasil profundo” típico das produções de
Walter Salles e afilhados. Faz pensar ainda na busca de uma maior
acessibilidade em busca da ampliação de seu público. Esse direcionamento acaba
tirando muito do impacto de “Abismo prateado”, fazendo temer uma possível
diluição do traço autoral de Aïnouz.
Um comentário:
Filme curto, mas certeiro
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