segunda-feira, junho 17, 2013

Sibila, de Teresa Arredondo ***


Na maioria das vezes, o gênero documentário foi visto como a forma mais objetiva e realista do cinema se manifestar. Por mais que trouxesse uma visão própria de seus autores, essas produções teriam fatos como essência, como matéria-prima. Além disso, seus diretores e roteiristas são vistos como terceiros que guardam alguma distância emocional com a temática focada. Nos últimos anos, entretanto, tal concepção vem sendo posta em cheque por obras documentais que trazem um forte enfoque subjetivo e intimista, em que a impressão pessoal do realizador acaba sendo mais importante que a objetividade dos fatos. Por vezes, os autores de tais filmes até apresentam ligação estreita com os seus protagonistas, acentuando ainda mais esse aspecto de pessoalidade. “Sibila” (2012) é um exemplar expressivo dessa tendência. Tão importante quanto mostrar os motivos que levaram Sybila Arredondo a se juntar ao grupo terrorista Sendero Luminoso e, consequentemente, ser presa é mostrar o impacto que isso teve na vida na diretora Teresa, sobrinha de Sybila, e como a cineasta compreende a situação de sua parenta. Apesar dessa origem temática, o filme está longe de ser apenas um acerto de contas doméstico. “Sibila” não apresenta soluções fáceis para o espectador. Teresa acaba enveredando por um caminho inquietante – em mais da metade inicial do filme, ela capta as impressões de parentes, amigos e conhecidos sobre Sybila, onde cada um dos depoentes tenta encontrar uma explicação para o que ocorreu. Nos momentos finais da produção, foca-se numa longa entrevista com a protagonista. Suas respostas são incisivas, desafiadoras, fundamentadas com uma coerência muito própria. Esse confronto das opiniões de “terceiros” com as ideias de Sybila produzem um contraste desconcertante, que mais instiga do que responde as dúvidas da diretora e da plateia. E o grande mérito de “Sibila” está em justamente enfatizar as complexidades da natureza humana, ao invés do convencionalismo de impor preceitos moralistas e simplificadores. Teressa Arredondo pode não ter conseguido as respostas que queria, mas conseguiu construir uma obra de fôlego peculiar e marcante.

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