Na maioria das vezes, o gênero documentário foi visto como a
forma mais objetiva e realista do cinema se manifestar. Por mais que trouxesse
uma visão própria de seus autores, essas produções teriam fatos como essência,
como matéria-prima. Além disso, seus diretores e roteiristas são vistos como
terceiros que guardam alguma distância emocional com a temática focada. Nos últimos
anos, entretanto, tal concepção vem sendo posta em cheque por obras documentais
que trazem um forte enfoque subjetivo e intimista, em que a impressão pessoal
do realizador acaba sendo mais importante que a objetividade dos fatos. Por
vezes, os autores de tais filmes até apresentam ligação estreita com os seus protagonistas,
acentuando ainda mais esse aspecto de pessoalidade. “Sibila” (2012) é um
exemplar expressivo dessa tendência. Tão importante quanto mostrar os motivos
que levaram Sybila Arredondo a se juntar ao grupo terrorista Sendero Luminoso
e, consequentemente, ser presa é mostrar o impacto que isso teve na vida na
diretora Teresa, sobrinha de Sybila, e como a cineasta compreende a situação de
sua parenta. Apesar dessa origem temática, o filme está longe de ser apenas um
acerto de contas doméstico. “Sibila” não apresenta soluções fáceis para o
espectador. Teresa acaba enveredando por um caminho inquietante – em mais da
metade inicial do filme, ela capta as impressões de parentes, amigos e
conhecidos sobre Sybila, onde cada um dos depoentes tenta encontrar uma
explicação para o que ocorreu. Nos momentos finais da produção, foca-se numa
longa entrevista com a protagonista. Suas
respostas são incisivas, desafiadoras, fundamentadas com uma coerência muito própria.
Esse confronto das opiniões de “terceiros” com as ideias de Sybila produzem um
contraste desconcertante, que mais instiga do que responde as dúvidas da
diretora e da plateia. E o grande mérito de “Sibila” está em justamente
enfatizar as complexidades da natureza humana, ao invés do convencionalismo de
impor preceitos moralistas e simplificadores. Teressa Arredondo pode não ter
conseguido as respostas que queria, mas conseguiu construir uma obra de fôlego
peculiar e marcante.
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