Depois de assistir recentemente a uma obra singular como “Elena”
(2012), que se propõe a desconstruir o próprio gênero ao qual pertence, ver um
documentário de formatação mais tradicional como “Muito além do peso” (2012)
pode gerar comparações injustas. Mas se a produção de Estela Renner não
apresentar novidades no campo formal, obedecendo à clássica estrutura de
entrevistas e imagens de arquivo, é de se convir que o filme é bastante
convincente no seu discurso temático. Ao retratar o problema contemporâneo da
obesidade infantil, não poupa o espectador de imagens e histórias fortes. Sua
contundência também se expande para uma visão ampla das possíveis causas e das
preocupantes conseqüências do crescimento do número de crianças e adolescentes
com excesso de peso. Assim, a obra questiona até valores caros da sociedade
capitalista e consumista, em que comer alimentos de alta carga calórica pode
ser um sinal de status social e em que um número cada vez maior de crianças com
doenças como diabetes e colesterol alto também representa maiores lucros para a
indústria de alimentos e para as agências publicitárias. Nesse contexto,
percebe-se que a intenção principal de “Muito além do peso” não está
necessariamente em se tornar um marco estético do gênero documentário, mas sim
na conscientização social, sendo que nesse último quesito é inegável que o
filme atinge seu objetivo. Eu mesmo nunca mais conseguirei tomar uma lata de
Coca Cola sem me vir à mente algumas imagens terríveis do filme...
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